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telesurargentina2América Latina - Opera Mundi - Para Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz argentino, medida é 'censura'; 'conduta grosseira antidiplomática', diz filósofo mexicano Fernando Buen Abad Domínguez.


Jornalistas e intelectuais latino-americanos criticaram o anúncio de que a Argentina vai se retirar da sociedade da emissora multiestatal TeleSUR, divulgado neste domingo (27/03), apontando "censura" por parte do governo de Mauricio Macri, que pretende se desvincular da rede criada em 2005 pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez. A Associação das Mães da Praça de Maio também se pronunciou a respeito.

“É uma censura aberta à informação de vários países latino-americanos que integram a TeleSUR. Não há outra explicação”, disse o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz em 1980 e integrante do Conselho Assessor da TeleSUR, em entrevista nesta segunda-feira (28/03) ao programa “Siempre es Hoy”, da Rádio Del Plata.

Esquivel afirmou que a TeleSUR ocupa um espaço importante na Argentina, na medida em que cobre temas que não são abordados por outras emissoras. “Aqui há muitas restrições informativas, fundamentalmente nos canais de televisão”. A saída da TeleSUR, para ele, mostra que “os espaços de informação ficam mais restritos”.

No domingo, Esquivel já havia manifestado seu repúdio à decisão em sua conta no Twitter.

O cientista político argentino Atílio Boron considerou a decisão “outro ataque do macrismo à liberdade de expressão”. Segundo ele, “do jeito que vamos, em pouco tempo neste país não vai ficar nem uma voz ou imagem alternativa. Somente a dos amigos/cúmplices de Macri”.

Também no Twitter, o filósofo mexicano Fernando Buen Abad Domínguez comentou: “Sair da TeleSUR não é somente uma conduta grosseira antidiplomática. É uma agressão ao direito de informação crítica do povo argentino”. Acrescentou que "algo magnífico a TeleSUR está fazendo para os povos para que tantas oligarquias queiram emudecê-la".

A Associação das Mães da Praça de Maio divulgou, nesta segunda, um comunicado no qual repudia o que considera ser uma "censura à liberdade de expressão e direito à informação dos argentinos". O texto diz que a decisão "nos fecha outra boca, outra cabeça que pensa, que nos conta o que realmente está ocorrendo". O texto afirma ser "muito triste, mas a CNN vem com tudo e com isso querem sugar nossos cérebros, para que sigamos comprando bonecas Barbie, para que sigamos aplaudindo [o presidente dos Estados Unidos, Barack] Obama, [...], por isso colocam a CNN no lugar da TeleSUR".
 
Movimentos sociais que integram a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) também expressaram descontentamento com a medida argentina. As organizações declararam que a decisão “é uma clara violação à liberdade de expressão”, que privará a população argentina de receber informação alternativa àquela produzida por “meios hegemônicos totalmente alinhados com as políticas antipopulares e neoliberais do PRO [coalizão Proposta Republicana, fundada por Mauricio Macri]”. 
 
O documento lembra que durante os cem dias de Macri na Presidência da Argentina foi revogada a Lei de Meios que, segundo as entidades, “garantia a pluralidade de vozes e proibia a concentração monopolizante dos meios de comunicação”. 
 

Ao jornal argentino La Nación, o ministro de Meios e Conteúdos Públicos, Hernán Lombardi, justificou a decisão como “falta de ingerência” sobre a emissora. “Nosso país não tinha nenhuma ingerência nos conteúdos nem em seu gerenciamento. Esta determinação está em linha com o que temos proposto para os meios públicos em termos de pluralismo e austeridade”, declarou o ministro.

Com a saída e desvinculação da Argentina, a TeleSUR deixaria de ser emitida na plataforma digital aberta do país, que atende 80% da população, e também deixaria de ser incluída obrigatoriamente nas redes de TV a cabo.

A adesão da Argentina à TeleSUR deu-se a partir de um convênio de cooperação firmado com a Venezuela em janeiro de 2005, entre os governos dos então presidentes argentino, Néstor Kirchner, e venezuelano, Hugo Chávez. Passados os cinco primeiros anos da assinatura do convênio, sua renovação é automática, a menos que uma das partes comunique sua decisão de desligar-se. A desvinculação efetiva ocorre seis meses depois da apresentação de notificação.

TeleSUR afirmou que “estuda resposta formal” ao anúncio de saída da Argentina da rede. Segundo nota, a empresa multiestatal “busca confirmação das fontes citadas por La Nación, devido a não ser costume de nossos meios replicar informação sem verificação prévia”.

Em texto divulgado nesta segunda-feira (28/03), a emissora afirmou que “as razões apresentadas por Hernán Lombardi contradizem a censura que o presidente Mauricio Macri leva adiante contra meios de comunicação e programas argentinos que são críticos ao seu governo”.

 


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