O primeiro-ministro do Timor Leste, Xanana Gusmão, apresentou sua renúncia ao presidente do país e comunicou à coalizão de governo que cederá o cargo a um líder da oposição.
"Ou agora ou nunca mais. E ficaria a nova geração demasiadamente dependente", afirmou Gusmão. Segundo o ex-chefe de governo, sua saída havia se tornado "obrigação moral e política", decisão que pretende abrir caminho para oxigenar a política e dar espaço aos "líderes do futuro" no país.
O lendário ex-guerrilheiro anunciou há uma semana sua intenção de deixar o cargo, cujo mandato expirava em 2017, uma vez que fosse concluída a remodelação do atual governo. Gusmão, 68 anos de idade, foi eleito o primeiro presidente do país (2002-2007) após a independência timorense.
Cargo entregue à oposição
Gusmão comunicou sua decisão em carta entregue na noite desta quinta-feira (05/02) ao presidente José Maria de Vasconcelos, conhecido como Taur Matam Ruak. No documento, Gusmão indicou que a reestruturação busca melhorar a eficiência do governo.
Antes, Gusmão havia anunciado a seu partido, o CNRT (Conselho Nacional para a Reconstrução do Timor-Leste), e aos parceiros na coalizão de governo, o Partido Democrático e o Frente para a Mudança, que seu sucessor será o opositor ex-ministro da Saúde, Rui Araújo.
Araújo faz parte do comitê central do partido opositor Fretilin, que governou o país nos cinco primeiros anos após a independência em 2002, e que foi a segunda legenda mais votada nas eleições de 2012, após o CNRT.
Segundo a imprensa local, a escolha de Araújo gerou um "grande mal-estar" no seio dos três partidos da coalizão de governo, apesar de contar com o apoio de líderes veteranos como o ex-presidente e ganhador do Nobel da Paz, José Ramos-Horta, e o ex-premiê, Mari Alkatiri.
Histórico de ex-colônia
Ex-colônia, o Timor Leste conseguiu independência em 1975 após séculos de dominação portuguesa. Após a emancipação, o território foi invadido e ocupado pela Indonésia até que um referendo apoiado pela ONU (Organização das Nações Unidas) outorgou a soberania timorense em maio de 2002.
Em 2006, o Timor Leste ainda atravessou grave crise política — que alçou, no ano seguinte, Xanana Gusmão ao cargo de primeiro-ministro que ocupava até agora. A situação pôs o país à beira de uma guerra civil, levando as Nações Unidas a intervir e enviar uma missão de segurança cujo mandato se encerrou em 2012.
Risco de instabilidade?
A notícia da renúncia coincidiu com a apresentação de um relatório da organização "Overseas Development Institute", alertando sobre o risco de instabilidade no Timor com a saída de Gusmão — o político discorda, e diz-se otimista com a transição.
A organização argumentou que a melhora nos níveis de segurança, vivida no país nos últimos anos, se baseou tanto na liderança carismática do ex-guerrilheiro quanto na distribuição, entre as várias facções, dos lucros da exploração de petróleo, cujas reservas estão se esgotando.
"Eu não acho [que vá haver instabilidade]. Por isso é que, na minha intervenção, fiz um apelo para todos estarem calmos, para todos contribuírem da melhor forma", observou Xanana Gusmão. "E, sobretudo, aos jornais timorenses, para não especular".
(*) Com informações das agências Efe, Brasil e Lusa