Miguel Namorado Rosa, que não foi constituído arguido nos três processos que envolvem estas offshores do BCP, foi ouvido no Banco de Portugal, CMVM e Polícia Judiciária para esclarecer a operação em que os banqueiros criavam offshores para pedir empréstimos com que adquiriam ações do próprio banco nos aumentos de capital desde 2000 e cujas perdas ascenderam a mais de 600 milhões de euros, que os banqueiros tentaram ocultar. A operação ocorreu durante a administração de Jardim Gonçalves e estas offshores chegaram a deter 5% do capital do banco. Para além do fundador do banco, foram também acusados e condenados pela CMVM os ex-administradores Paulo Teixeira Pinto, Christopher de Beck, Filipe Pinhal, António Rodrigues, Alípio Dias e António Castro Henriques, bem como os diretores Luís Gomes e Miguel Magalhães Duarte.
Todos recorreram das sentenças - multas entre 200 mil e um milhão de euros - e esta segunda-feira foi o último dia do julgamento do recurso e sem dúvida o mais surpreendente. O depoimento de Miguel Magalhães Duarte "deixou a audiência de boca aberta", relata o Diário Económico, ao revelar ao juiz que Miguel Namorado Rosa, que assumira a criação de 5 das 17 offshores suspeitas, acabara de tomar posse enquanto diretor do departamento de supervisão da Comissão de Mercado e Valores Mobiliários (CMVM), justamente o organismo de regulação que acusa os ex-banqueiros.
Namorado Rosa exercia funções no antigo BPA quando constituiu as cinco offshores nas ilhas Caimão, a pedido do administrador Pedro Líbano Monteiro. E a sua ascensão ao cargo de diretor da supervisão da CMVM serviu de argumento para Magalhães Duarte - que tenta escapar ao pagamento de 75 mil euros de coima a que foi condenado - defender em tribunal que "isto é a prova que a CMVM não acredita na acusação que nos estão a imputar".
Contactada pelo Correio da Manhã, a CMVM admite a contratação de Miguel Namorado Rosa, sublinhando que ele "não é arguido em nenum dos processos" e tem "uma experiência vastíssima na área dos mercados financeiros". A sentença do julgamento que contesta as coimas aplicadas aos banqueiros está marcada para o próximo dia 18 de janeiro.