Transparecem dúvidas, tensões entre o ter vivido no Sul, o ter o coração no Norte, e ter de habitar o Centro. Automatismos da escrita, livre de preconceitos ou regras. Influências literárias. Observações dos passageiros, das gentes nas paragens, das vidas que se cruzam e não se tocam. Tenho difundido alguns dos poemas por ordem da sua escrita no blog do grupo poético a que pertenço (AEQUUM) e na revista digital do mesmo grupo (D'AEQUUM). Sintam-se pois à vontade a ler as nossas experiências poéticas no blog do grupo AEQUUM e a colaborar vocês mesm@s na nossa humilde revista digital.
Sendo o objectivo central continuar a elevar a poesia a um nível de liberdade criativa que mistura a breve existência do sonho da contínua existência da vida, assim como viver a poesia como uma experiência quase natural do corpo (um pouco bebendo de tantos –ismos da poesia dos séculos XX e XXI), considerei a hipótese de difundir alguns dos poemas aqui no Diário Liberdade, uma vez que este portal faz parte da minha ficha de ligação com a realidade e, de certo, merece uns pingos a mais de sonho (mais dos que já tem). Por outro lado, considero importante a pluralidade de conteúdos do DL e, não sabendo fazer melhor, vou contribuindo com as minhas "crónicas" do dia-a-dia e agora com as paragens e estações do meu poema de comboio, do teu poema de comboio, do nosso poema de comboio. Saúde.
poema de comboio #12
o que poderias ter feito?
o sol não furou a nuvem negra
não chegámos a tempo à paragem
nunca sabemos como cortar os fios certos
de maneira correcta
e as vidas deixam-se ligadas
até o romper do dia
até o estalar do sol
a morte não é um problema
há de sobra e os gritos são garantidos
ouve
está a chegar e parece um burburinho apenas
o bater de asas de uma mosca
como quem poisa de tédio
como quem arde de sono
e mói a febre num tear
sem mó
logicamente
como poderias saber?
a mentalização e o acto de convencer
retórica dos ponteiros
mostradores digitais das letras ideais
ideias furadas com fugas de luz
apareceu o sol
viste?
poema de comboio #13
passa-me sempre esta imagem e parece que soa sempre rápido demais. não houve problema algum, mas andei três correndo a cidade à espera de resolver tudo no mesmo dia. na mesma tarde aparece-me este deserto. até os jardins de entrada da faculdade estão amarelos. o meu sorriso dói-me. a cabeça está pesada e não consigo achar piada alguma ao humor cínico da sucessão de eventos num período de tempo contínuo.
eu existo e sei que existo porque me dói as costas e porque o peso de ser é tão sarcástico como a mesma existência. não há outra maneira de o dizer sem ser estando calado. não haverá outra possibilidade de me fazer compreender. os actos não chegam. as pedras não voam com a velocidade que eu desejaria para elas. custa tanto acartá-las num bolso toda a vida para ver que o futuro delas é mais incerto que o vidro que não conseguimos partir.
tanto tempo. tanta coisa gasta. tanta pedra polida e sapatos rotos e sem atacadores coerentes. não havia mais nada para comprar. não havia mais dinheiro na conta. conto então o meu segredo e chego à conclusão que estava tão bem guardado. que desperdício. de tempo. de tanta coisa gasta. sinto, sinto que sim. sei, mas não sei quando e porquê. acertaria em cheio nesse vidro se apenas a pedra não padecesse da mesma falta de vontade de viver.
um projéctil sem projecção. mas que merda. mas porque é que perco tempo? mas porque é que tenho tempo para perder? mas porque é que há tempo? mas porque é que esse tempo que existe não nos pertence e, mesmo assim, o perdemos sempre? querias o tamanho xxl? uma explicação "jumbo size" e uma certeza em tamanho americano número nove e um quarto. querias uma vida toda num catálogo de roupa, tendência de outono. percebe-se