Os casos de soldados alemans trocando calaveras de inimigos no Afeganistam, ou marines estadounidenses mijando sobre cadáveres eram apresentados nos mídia como exemplos de barbárie alheia aos humanitários soldados espanhóis. Mas a verdade é bem diferente.
O jornal espanhol El País apresenta hoje, domingo, um vídeo das torturas infligidas por soldados espanhóis a dous detidos em Iraque, em 2004. Nove anos depois, sai à luz este documento. Nele, cinco soldados espanhóis entram numha cela; um deles ordena a berros a um dos dous prisioneiros que se incorpore, mas o homem nom parece compreender. Ao seu lado, o outro prisioneiro é lançado sobre o primeiro e três soldados começam a dar-lhes pontapês. Os detidos gritam e gemem, enquanto dous militares observam na porta da cela. Um deles comenta afinal do vídeo, de 40 segundos, "Ho, deste já dêrom conta!", e ri. Os agressores parecem cientes de que se lhes está a gravar, sem que por isso deixásem de torturar os detidos, o que leva a pensar que este tipo de atuaçons nom eram percebidas como algo irregular.
Nom parece que o documento Procedimento de detençom e atuaçom com o pessoal detido, elaborado pola Seçom de Inteligência do Estado Maior e repartido entre os 1.300 soldados da Brigada Plus Ultra, que ordenava a utilizaçom da "violência mínima imprescindível", fosse tomada muito a sério polas tropas espanholas. O manual incluía um catálogo de direitos do detido e advertia de que "nom poderá se invocar circunstáncia algumha como justificativa da tortura ou de outros tratos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes".
Mas isso era o que acontecia no Centro de Detençom da Base Espanha em Diwaniya. Nesta "zona hortofrutícola", como a definira o Ministro de Defesa espanhol na altura, Federico Trillo, os detidos por delitos comuns eram entregues às autoridades locais iraquianas, mas os insurgentes contra a ocupaçom eram levados a este "Detention Facility", como aparece nos informes publicados por Wikileaks, para "interrogatórios adicionais".
A Brigada contava com um Assessor Jurídico, que "informará quando seja requerido a respeito da pertinéncia da detençom levada a cabo e também obre as acçons subseguintes que procedam". Nom parece que fosse requirido muito habitualmente.
Meses depois de que estas imagens fossem gravadas, o Iraquiano Flayed Al Mayali foi detido acusado de cooperador necessário no ataque a dous agentes do CNI que resultárom mortos. Foi o 22 de março de 2004. 72 horas depois da sua detençom, foi transladado a Bagad, ao cárcere de Abu Ghraib. Em fevereiro de 2005, quando saiu livre de cargos e sem ter sido julgado, denunciou tortura no centro de detençons da Base Espanha. As denúncias de Mayali nunca se pesquisárom. O Ministério do Interior proibiu-lhe a entrada no Estado Espanhol e o Ministerio de Defesa nom informou da sua detençom.
Nom deixa de resultar patética a intençom do El País de definir estas actuaçons como pontuais e restringí-las à guerra do Iraque, quando o Estado Espanhol leva sendo periodicamente condenado por torturas no seus cárceres por tribunais internacionais como o de Estrasburgo. A frase final do artigo "A conduta de um grupo de bárbaros de uniforme, amparados na impunidade da noite e a indefensom das suas vítimas, nom deve lixar a imagem das Forças Armadas e nem sequer salpicar os mais de 5.000 militares espanhóis que cumpriram com o seu dever no Iraque", deixa ver às claras a intençom deste jornal. Indolente ou muito menos crítico em outros casos de torturas, El País nom fijo mais que escrever um novo capítulo nas discusons domésticas entre as duas facçons do mesmo bando espanholista e neoliberal que som o PP e o PSOE.