Sustentados numa paranoia securitária de natureza islamofóbica, direita e social democracia unem-se para adotar um conjunto de medidas que levam mais longe os atentados às liberdades individuais e coletivas, à democracia e à participação popular e abrem campo à extrema-direita. Ao mesmo tempo que se instiga a paranoia, avança-se, no plano ideológico, na teoria maquiavélica do choque de civilizações. Pelo meio, com pezinhos de lã, lá se vai também falando dos "extremismos de esquerda". Entretanto, em Londres, uma enfermeira é suspensa por rezar por uma colega muçulmana e multiplicam-se na Europa as manifestações de extrema direita contra as minorias religiosas e os imigrantes.
O Big Brother europeu está em marcha e a Europa fortaleza reforça-se. "O inimigo está entre nós", todos somos potenciais "jihadistas". Por isso, os nossos movimentos, viagens, compras, ações, opiniões vão ser "monitoradas" pelos "guardiões" da nossa "segurança" que acumularão o poder de decidir quando e como os exércitos sairão à rua para "garantir" a nossa "tranquilidade". A União Europeia está mergulhada no medo, empurrada para o racismo e a intolerância e corroída por uma profunda crise social e econômica. A realidade, essa, fica submersa no mar de desinformação e condicionamento ideológico, ocultando-se que estamos a ser vítimas das políticas "europeias" e "atlânticas" que instigam ao ódio, à guerra, ao conflito, à divisão – seja na Síria, na Líbia, no Iraque... ou na Ucrânia, onde o exército de Kiev bombardeia sem dó nem piedade o seu próprio povo em Donetsk. Tudo isto em nome dos "valores da democracia ocidental" e da proclamada "liberdade de expressão e de imprensa".
É esta "Europa", decadente, em crise e em que o medo e a chantagem são armas de domínio, que vai também estar em julgamento nas eleições do próximo domingo na Grécia. Um país destruído economicamente, asfixiado por uma dívida imposta, vendido a retalho e ao preço da chuva ao grande capital estrangeiro, completamente submetido aos ditames dos seus "credores" e senhores e com um povo a sangrar feridas sociais, de dignidade e de soberania – é este País que vai a votos no domingo. Um povo massacrado e ferido, mas também um povo que há quase uma década protagoniza lutas sociais e de massas de grande envergadura para as quais o movimento sindical de classe e os comunistas gregos deram e dão contributos decisivos.
O desejo popular de mudança e de recusa das políticas do PASOK, da Nova Democracia, da troika e da União Europeia é mais do que evidente. Isso é já uma vitória para a Grécia, indissociável da luta popular. E é uma derrota para a União Europeia do capital e do medo. O povo grego está demonstrando coragem, quer mudar e acredita numa mudança real substantiva. Essa é a razão por que, nervosos, os "donos disto tudo" se lançaram numa imunda campanha de chantagens e pressões contra a liberdade de expressão e de decisão do povo grego. Porque a liberdade do povo põe, como sempre, em causa a "liberdade" de mandar, de explorar e oprimir. Compete às forças políticas gregas interpretar e respeitar este fundo sentimento nascido da luta, que é propriedade exclusiva do povo. Porque, tal como em Portugal, será com o povo e a sua luta que se podem operar as rupturas necessárias para a Grécia respirar liberdade, justiça, dignidade, desenvolvimento, progresso e soberania. O tempo na Grécia e na Europa não é de meias verdades e muito menos de novos cozinhados para as mesmas receitas. É de construção de um futuro novo que exige rupturas, coragem, verticalidade e frontalidade. E que não tolerará enganos ou desilusões.