Em 1969 entramos numa nova fase, depois da tomada do poder pela ala progressista da Frente Nacional. Obtivemos, desde então, muitos êxitos no campo econômico, político e social, com muitos sacrifícios do nosso povo, graças à ajuda fraternal dos países socialistas e principalmente da União Soviética".
Estas são palavras do representante da Organização Política Unida – Frente Nacional do Iêmen na tribuna do 8º Congresso do Partido Comunista Português (PCP) em 1976. A Revolução de Abril suscitava ampla admiração e solidariedade e as relações dos comunistas portugueses e dos revolucionários iemenitas, que, entretanto, criaram o Partido Socialista Iemenita orientado pelo marxismo-leninismo, tornaram-se muito estreitas. Em 1980, o camarada Álvaro Cunhal, numa viagem histórica ao Oriente Médio, visitou a República Popular Democrática do Iêmen. Em tempo de avanço revolucionário o PCP acolhia no seu Congresso organizações anti-imperialistas e progressistas de todo o mundo e o Iêmen do Sul, protagonista da primeira experiência de orientação socialista do mundo árabe, não podia faltar.
Entretanto, na virada dos anos 80, o mundo deu um imenso salto atrás. O desaparecimento da URSS e do socialismo como sistema mundial levou à contraofensiva do imperialismo visando impor ao mundo uma nova ordem mundial totalitária. O quadro internacional é hoje completamente diferente daquele em que se realizou a revolução portuguesa e trouxe a Portugal a primeira delegação de revolucionários iemenitas. Perante a resistência dos trabalhadores e dos povos e a braços com o aprofundamento da sua crise estrutural, os setores mais reacionários e agressivos do capitalismo jogam cada vez mais abertamente no fascismo e na guerra como "saída" para as suas contradições. Conduzidas pelos EUA, a UE e a Otan multiplicam-se guerras de agressão que, como na Síria, estão provocando sofrimentos sem conta e destruindo países de cujas riquezas o grande capital transnacional quer apoderar-se, como acontece no Oriente Médio onde se encontram as maiores reservas mundiais de petróleo de que, ao serviço do imperialismo, a Arábia Saudita é um dos principais guardiões.
O que se passa no Iêmen integra-se num processo de subversão generalizado em que o imperialismo explora sobrevivências tribais e feudais, atiça conflitos étnicos e religiosos, generaliza a corrupção e os tráficos criminosos, fomenta e instrumentaliza o terrorismo, o grande álibi da sua estratégia agressiva. Nunca devemos esquecer que a Al Qaeda, que a agressão da Arábia Saudita estaria a fortalecer no Iêmen, foi uma criação dos EUA, alimentada pela repugnante elite saudita. Mas importa, sobretudo, não esquecer a história da luta libertadora do povo iemenita contra o colonialismo e o imperialismo que culminou com a fundação da RPDI. Por detrás do emaranhado de contradições e conflitos atiçados pela agressão estrangeira – cuja natureza está bem expressa nos criminosos bombardeios das cidades de Sanaa e Adén, sem que o "Ocidente civilizado" levante um dedo de condenação – está é a realidade da luta de classes e a certeza do desenlace revolucionário, cedo ou tarde, que a reação saudita e o imperialismo tanto temem. A roda da história andou para trás. Mas temporariamente. Há sólidas razões para confiar em que no Iêmen, como noutros países que gemem sob a bota imperialista, os ideais libertadores acabarão por triunfar.