Para isso, poderá ser criada uma unidade do órgão, em Genebra (Suíça) responsável por essa apuração.
De acordo com Emmerson, na falta de um "mecanismo de monitoramento efetivo e independente" dos drones, a ONU vai agir. "Junto com meu colega Christof Heyns [relator especial sobre execuções extrajudiciais], vou lançar uma unidade de investigação com base nos procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos [da ONU] para analisar ataques individuais feitos por drones", afirmou.
Para o relator, os ataques estadunidenses no Paquistão usando drones poderiam ser "crimes de guerra" e classificou o paradigma da política antiterror do presidente Barack Obama de indefensável por ter "sérias violações dos direitos humanos e das leis humanitárias".
Em junho, Christof Heyns pediu que os Estados Unidos esclarecessem como toma a decisão de "matar ao invés de capturar" os que consideram delinquentes e se o país onde realizam os ataques dão consentimento para essas medidas.
"O governo dos EUA deve esclarecer que procedimentos utiliza para garantir que esses assassinatos seletivos estão de acordo com o direito humanitário internacional e os direitos humanos, assim como as medidas que permitem uma investigação pública, independente e efetiva em casos de violação", disse o relator na ocasião.
Obama pior que Bush
Durante o governo Obama, ataques com drones aumentaram 500% e são a marca registrada de sua política de segurança nacional.
O atual presidente autorizou 298 ataques com drones no Paquistão – seis vezes mais do que o governo Bush. Estima-se que 2.143 pessoas tenham sido mortas por drones durante a Presidência de Obama, cinco vezes mais do que no governo anterior.
Estudo recém-publicado pelas universidades de Nova York e Stanford aponta que 98% dos mortos em ataques de drones são civis ou militantes do baixo escalão, e só 2% dos mortos são os "alvos de grande valor", as lideranças terroristas.
"O governo Obama precisa reavaliar urgentemente o uso de drones: nós não declaramos guerra contra o Paquistão, mas 800 mil pessoas de Waziristão do Norte e do Sul vivem de fato em uma guerra", disse James Cavallaro, diretor da Clínica de Direitos Humanos e Resolução de Conflitos da Escola de Direito de Stanford e um dos autores do estudo "Vivendo sob os drones".
Paquistão quer fim dos drones
Em abril, o Parlamento paquistanês retirou a autorização para os EUA lançarem drones. O governo estadunidense, no entanto, ignorou a decisão.
Em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, chamou de contraproducentes os assassinatos cometidos pelos Estados Unidos em seu país e reiterou que a maior parte das vítimas são civis e não integrantes de grupos talibãs.
"Nenhum país e nenhum povo tem sofrido mais na épica luta contra o terrorismo que o Paquistão. (...) Os ataques com aviões não tripulados e as vítimas civis em nosso território dificulta a batalha que já travamos em nossos corações por causa desta luta épica", enfatizou.
Na ocasião, Zardari também criticou os Estados Unidos por pedirem que o Paquistão faça mais na "guerra contra o terrorismo": milhares de paquistaneses perderam a vida nos atentados com bomba e outros ataques executados por Washington e a Otan desde 2001, quando o Paquistão se aliou à "guerra contra o terrorismo".