O incremento da vigilância faz parte de operações militares que, embora se espalhem por toda a África sob o pretexto da "guerra contra o terror", endereçam-se em boa medida a estorvar as crescentes conexões económicas chinesas num continente rico em recursos.
O foco da reportagem do The Post devota-se aos programas de vigilância aérea empregados para recolher informação de inteligência sobre grupos militantes locais. A grande maioria destas operações levam-nas a cabo companhias privadas, que se responsabilizam de fornecer pilotos, operadores de sensores, analistas de inteligência, mecânicos e intérpretes.
De acordo com a reportagem, na África instalaram-se por volta duma dúzia de bases aéreas desde 2007. Estas bases são pelo geral ampliações de pequenos campos aéreos que já existiam em diversos países africanos e usam-se para operar pequenas aeronaves, ocultas como aviões privados e fornecidas com discretos equipamentos de vigilância. A permissão para estas operações habitualmente garante-a o governo local em troca da partilha da informação de inteligência recolhida pelos EUA.
O programa tem como alvo um amplo leque de diferentes grupos, sob o pretexto de combater o terrorismo. Inclui-se uma indefinida amálgama de independentistas tuaregues e islamistas no norte do Mali, o Exército de Resistência do Senhor (ERS) na África Central, e o al-Shabaab na Somália do Sul. Embora se aduzam preocupações humanitárias e a ameaça do terrorismo para justificar estas operações, elas em realidade fazem parte duma nova disputa pela África, com os Estados Unidos e a Europa a competirem pelos recursos naturais da zona e buscando minimizar a influência chinesa.
Em particular, a reportagem do The Post cita dous objetivos de crescente interesse para o exército dos Estados Unidos: Boko Haram na Nigéria e as operações do Exército de Resistência do Senhor no Sudão e no Sudão do Sul. No caso da Nigéria, que fornece arredor de 8 por cento do petróleo cru dos Estados Unidos, a motivação económica do "antiterrorismo" fica particularmente patente.
Mesmo desde o início das operações da AFRICOM, os EUA estão a preparar planos para uma possível intervenção militar na Nigéria. Em 2008, a Academia da Guerra (War College) do exército dos EUA sediada em Carlisle, Pensilvânia, simulou uma série de cenários de batalha relativos a possíveis intervenções da AFRICOM e estimou que seriam precisos 20000 efetivos para controlar os campos de petróleo do Delta do Níger. Na conferência da AFRICOM de 18 de fevereiro de 2008, o vice-almirante Robert T. Moeller afirmou que o primeiro princípio da AFRICOM era proteger "o livre fluxo de recursos naturais da África para o mercado mundial".
Apenas um mês depois, o primeiro comandante da AFRICOM, o general William Ward, declarou que, devido à crescente dependência estado-unidense do petróleo africano, o primeiro objectivo das operações sobre o terreno seria combater o terrorismo. Embora os EUA não tenham intervindo militarmente, o significado político dos preparativos da AFRICOM ficou evidente quando milhões de trabalhadores nigerianos participaram numa greve geral contra a decisão do presidente Goodluck Jonathan de pôr fim aos subsídios ao fuel. Jonathan usou uma série de atentados com bomba reclamados por Boko Haram para instituir a lei marcial e suprimir o crescente movimento grevista.
No caso do Exército de Resistência do Senhor, o argumento da "intervenção humanitária" agacha de forma semelhante objetivos económicos. De acordo com o The Post, o AFRICOM anda à procura duma base no Sudão do Sul que tanto contribuiria à caça do líder do ERS Kony como permitiria uma maior influência dos EUA no conflito crescente entre o Sudão e o Sudão do Sul.
No centro do conflito sudanês aparecem os desacordos quanto às receitas do petróleo. Desde que o Sudão do Sul obteve a independência em 2011, o país mantém um conflito contínuo com o Sudão pelo controlo dos campos de petróleo na região fronteiriça e as taxas a pagar ao Sudão, cujos oleodutos são os únicos disponíveis para exportar o petróleo. Em abril, enquanto o Sudão e o Sudão do Sul se envolviam em frequentes escaramuças fronteiriças, o presidente do Sudão do Sul, Slava Kiir, viajou à China com o intuito de angariar apoios para a construção dum oleoduto alternativo através do Quénia.
A China é o maior investidor na infraestrutura petrolífera tanto sudanesa quanto do Sudão do Sul. Através do aumento da sua presença militar, o governo estado-unidense espera contrabalançar a influência económica chinesa. O ano passado, durante a sua viagem pela África, a Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, declarou: "Não desejamos assistir a um novo colonialismo na África", em referência à influência chinesa no continente.
Em último termo os programas de vigilância aérea usar-se-ão para alicerçar uma futura intervenção militar. O passado outubro, Obama enviou 100 assessores militares à África Central para trabalhar em favor da "remoção de Joseph Kony". Na Somália, usam-se veículos aéreos não tripulados e ataques das forças especiais, com o mesmo efeito sangrento que no Paquistão, Iêmen e Afeganistão. Embora o programa de vigilância na África do Oeste e África Central esteja na atualidade desarmado, vários cargos oficiais citados pelo The Post salientam o potencial para expandir o programa.
De acordo com a reportagem, o AFRICOM já tinha planos para empregar um programa de veículos aéreos não tripulados contra a ERS, mas ele foi cancelado sem explicação. Recentemente, porém, o Comité das Forças Armadas do Senado autorizou 50 milhões de dólares para expandir as operações de vigilância na África e sublinhou a necessidade de aeronaves que possam "sobrevoar durante longos períodos de tempo áreas que sejam de interesse", isto é, veículos aéreos não tripulados. Um oficial do exército dos Estados Unidos, cuja identidade não foi divulgada, declarou a The Post que, de eles quererem fazer voar veículos não tripulados, "estou certo que nós conseguiríamos tanto o necessário acesso quanto a permissão para sobrevoar".