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080815 quefariaGrécia - Nova Cultura - [Tradução de Gabriel Duccini] Estamos frequentemente ouvindo a seguinte pergunta, bem-intencionada: “O que vocês fariam se estivessem no lugar do Syriza?” A pergunta é adequada. Mas devemos colocá-la na perspectiva correta.


Se nós, o Partido Comunista Grego, estivéssemos no “lugar” do Syriza, ou seja o lugar do gerenciamento da burguesia, o lugar de defender os interesses do capital em suas exigências pela restauração da lucratividade, procurando usar as vantagens conferidas sobre o capital ao ser membro da UE, da zona do euro, e mais geralmente das alianças euro-atlânticas e da OTAN; se estivéssemos no “lugar” de assumir um governo que é uma ferramenta do poder dos monopólios; se estivéssemos no “lugar” de negociar em nome do capitalismo grego, sentados nas mesas redondas da UE, da zona do euro, e de outros órgãos imperialistas…

Se estivéssemos nesse “lugar”, não faríamos nada diferente do que o Syriza já está fazendo. Não poderíamos ajudar, mas teríamos os mesmos dilemas: devemos continuar dentro do euro ou optar pela falência, controlada ou não controlada, e em um capitalismo grego baseado no Dracma? Iríamos pôr na balança o que é mais vantajoso para o interesse do nosso capitalismo e escolher de acordo com isso. E foi isso que o Syriza fez.

Mas se estivéssemos nesse “lugar”, não seríamos mais um Partido Comunista, o partido da classe operária e das massas populares; teríamos nos tornado um partido diferente, incapaz de lutar em seu nome. É isso que temos explicado desde 2012 quando os trabalhadores nos perguntavam, com boas intenções, sobre “entrar” em um governo de coalizão com o SYRIZA, o apoiá-lo, ou minimamente tolerá-lo em 5, 10 questões.

Nós explicamos, já naquela época, que todo governo da gestão da burguesia, quaisquer sejam suas intenções, declarações, e auto caracterizações, quaisquer sejam suas aspirações, é objetivamente forçado em um caminho especificamente antipopular, porque tal governo não é o produto de uma ruptura com o capital, seu poder, com os órgãos imperialistas, UE, etc.

Hoje, a ilusão e desilusão de que as coisas poderiam ser de outra forma desabam diante de nossos próprios olhos, não importam o quão variada e diversa seja a maneira que tentem acobertar a verdade com os trapos da caricatura de ruptura, como a “moeda nacional”, a “reconstrução da produção” capitalista, o “comprometimento honesto”; não importa o quanto tentem retocar a máscara e vendê-la, tentando encurralar os que estão irritados, ou decepcionados com a política do SYRIZA, de volta para a cerca com os donos de barcos, industriais farmacêuticos, os centros capitalistas dos Estados Unidos e Alemanha que apoiam o Grexit.

Mas voltemos para a pergunta anterior: O que teria acontecido se ocorresse uma mudança radical na correlação de forças, em proveito da classe operária e dos estratos populares mais pobres, se, no lugar de um governo gestor da Burguesia, um governo que é um mero instrumento do poder capitalista, tivéssemos um Governo verdadeiramente popular e dos trabalhadores, um instrumento do poder dos trabalhadores e massas populares, este o qual os comunistas obviamente desempenhariam um papel decisivo?

Tal poder governamental não estaria preso nas saídas sem fim de uma negociação antipovo com os órgãos imperialistas da UE, do BCE e do FMI. Nem sequer começariam o tipo de processo que temos vivido nos últimos cinco meses.

Antes de tudo, porque nem aprovaria o completo panorama antipovo e anti-operário institucional e legislativo, nem as leis relacionadas ou não ao memorando; nem aprovaria as medidas pró-capital, que protegem seus lucros, os privilégios ultrajantes das corporações. Aboliria todas essas medidas; subverteria tudo isto. Também não abraçaria comprometimento com a UE, BCE, FMI e com a OTAN, e nem as “obrigações” que derivam disso. Colocaria um fim à participação do país nesses grupos imperialistas. Se desvincularia de todos eles.

Não deixaria os setores da economia, as unidades de produção, o setor de serviços, energia, infraestrutura, e bancos, nas mãos de grupos empresariais, do capital monopolista. Realizaria uma série de medidas imediatas, destinadas a lançar o processo de socialização e organização da economia sob as bases do planejamento central científico. Iria, então, abrir o caminho para a utilização da capacidade produtiva do país, usando como critério não o lucro das corporações e do capital, nem a exploração capitalista, mas a satisfação das necessidades dos trabalhadores e do povo, de suas necessidades sociais mais amplas. Esse caminho iria nos permitir que saíssemos da crise sob os interesses dos trabalhadores e do povo, tornaria possível desenvolver, igual e proporcionalmente, os setores da economia que atualmente estão estagnados devido aos compromissos com a UE (Por exemplo, construção naval, açúcar, produção de carne).

Tal poder não reconheceria a dívida pública, e nem a obrigatoriedade de pagá-la. Declararia sua abolição unilateral.

Um poder e Governo como esse seria um produto da mais ampla mobilização operária e popular e de participação dos trabalhadores e massas populares no exercício do poder, através de novas instituições que surgiriam de suas lutas subversivas, substituindo as velhas instituições do sistema político burguês e da “democracia” dos monopólios.

Um poder e Governo como esse imediatamente assinaria acordos internacionais de benefício mútuo com outros Estados, para importação de remédios, comida, energia, precisamente porque não se comprometeria a participar em órgãos imperialista como a UE, OTAN, etc.

É esse o lugar pelo qual estamos lutando hoje.

A luta inteira dos comunistas se orienta nessa direção. Tem por objetivo mudar a correlação de forças em prol da classe trabalhadora e dos estratos mais pobres da população, a fim de alterar o caminho que o país vem seguindo; a fim de abandonar a via capitalista de desenvolvimento, seja sob o euro ou sob o dracma, junto com suas crises, a sua miséria, sua exploração, a sua vida sem direitos, a adaptação das necessidades dos trabalhadores e do povo aos limites sempre impostos pelos lucros das corporações, o seu compromisso em participar de sindicatos capitalistas e alianças imperialistas.

É esse o motivo que hoje o KKE chama todo o povo não apenas para resistir aos novos ataques antipopulares e anti-operário do capital; resistir ao governo Syriza -ANEL, e à UE; mas usar sua luta como trampolim para transformá-la em um passo adiante para o reagrupamento do movimento operário, o reforçamento da Aliança Popular; para fortalecer a orientação anticapitalista e antimonopolista do movimento, ao visar o inimigo real: os monopólios, o capital, empregadores, e seus governos, seus partidos, suas alianças internacionais da UE-EUA-OTAN. É essa a única forma de mudar a correlação de forças a partir dos interesses do povo- a fim do povo formar uma força determinada, forte e capaz de impedir a ofensiva antipopular de hoje, e derrotá-la amanhã, impondo a sia própria saída. Nesse processo, os trabalhadores serão capazes de alcançar sucessos e vitórias, grandes e pequenas. E é esse o critério que eles devem assumir na frente da urna, se e quando isso acontecer de novo: como seu voto vai ajudar a reforçar o esforço para mudar a correlação de forças, a fim de ajudar o povo a se levantar, organizado e determinado para colocar seu futuro em suas próprias mãos.

Texto publicado no periódico do Partido Comunista Grego, Rizospastis, em 19 de Julho de 2015


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