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d183d187d0b0d181d182d0bdd0b8d0bad0b8 d181d185d0bed0b4d0b0 Ucrânia - Revista Rubra - [José Martins] É curto o caminho que leva das frias salas da diplomacia para o quente terreno das guerras e revoluções. Não era Clausewitz quem dizia que a guerra é a continuidade da diplomacia por outros meios? O problema é saber antecipadamente o momento exato em que ocorrerá essa criativa metamorfose.


Vamos aos fatos. A rebelião da população do Leste da Ucrânia contra o novo governo em Kiev se estende e se arma. Neste sábado, 12 de Abril, milícias populares armadas tomaram a sede do Ministério do Interior da Ucrânia para a região de Donetsk, no sudeste do país. Segundo a agência EFE, dos EUA, sobre o edifício tomado tremulam as bandeiras da proclamada República Popular de Donetsk e das milícias populares de Donbass (bacia carvoeira de Donetsk).

GENTE NOSSA – Além de não opor nenhuma resistência à ocupação, Valeri Ivanov, chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia para a província de Donetsk, se juntou aos revoltosos. Foi “destituído” por Aleksandr Turchinov, o presidente do governo instalado em Kiev. O problema, para esta triste figura, é que a “deserção” de Ivanov não é uma exceção. E muito menos traição. Ele apenas se identifica muito com os revoltosos e nem um pouco com o governo de Turchinov e quem ele representa. Do mesmo modo que todos os policiais que estavam no edifício e que também se uniram naturalmente aos seus conterrâneos.

Esse é o segundo edifício do governo na cidade de Donetsk, capital da província homônima, em poder dos revoltosos, depois de ocuparem no dia 6 de Abril a sede do governo regional. Tomaram também vários edifícios públicos e armamentos em outras grandes cidades, como Mariupol e Yanakievo. Essa ofensiva regional começou pela manhã deste sábado na localidade de Sloviansk, a mais de cem quilômetros ao norte de Donetsk, com a tomada de três delegacias de polícia, a sede local do Serviço de Segurança da Ucrânia e a prefeitura.

A prefeita da cidade, Nelia Shtepa, anunciou que sua cidade fará o referendo para decidir se a província deve se tornar independente da Ucrânia e se unir à Rússia. E manifestou o apoio do governo local aos revoltosos armados que tomaram o quartel de polícia de sua cidade: “Conheço muitos deles, são gente nossa e exigem a realização de um referendo. Estamos todos de acordo, não posso negar”, reforçou Shtepa.

NEM LAVROV SALVA – Na manhã de domingo, 13 de Abril, unidades armadas enviadas por Turchinov tentaram desocupar aquele quartel policial situado exatamente na Avenida Lenin, na cidade de Sloviansk, como mostra o mapa da BBC na matéria em que noticia várias vítimas fatais na batalha travada[1]. Na metade de domingo, ainda não se tem mais detalhes do que está acontecendo.

O importante é que os dados foram lançados. E esta crise ucraniana não será compreendida se não se levar em conta pequenos detalhes como esse nome da Avenida Lenin, em que se desenrolaram os confrontos da manhã deste domingo. Como na Rússia propriamente dita, ao longo de muitas ruas ainda existem inúmeras estátuas em homenagem a Lenin erguidas em toda Ucrânia – mais na “Ucrânia russa” do leste industrial e operário do país e quase nada na “Ucrânia polonesa” do oeste agrário e reacionário da junta de governo instalada em Kiev.

Além destas identificações com o passado recente da chamada União Soviética, a maior parte da população ucraniana confunde, em maior ou menor grau, sua filiação atual com a mesma de séculos atrás quando Kiev era orgulhosamente a capital do Grão Império Russo. Do mesmo modo que na Criméia, ninguém é mais ucraniano que um russo e vice-versa.

Esses fatos aparentemente banais devem ser considerados nas perspectivas e possibilidades da questão ucraniana. Depois dos últimos sete dias, a alternativa nunca foi tão real e mais clara: ou a federalização radical (leia-se balcanização) da Ucrânia ou guerra civil. É por isso que a diplomacia de Washington e de Moscou não desejava os acontecimentos iniciados nesta semana na província de Donetsk – não lhes interessa nada a eclosão de uma guerra civil na Ucrânia, o que transbordaria para os países da antiga cortina de ferro e para a própria Rússia. E a alternativa da balcanização é a menos provável.

Mas essas coisas do mundo real da luta de classes e da geopolítica não acontecem ou deixam de acontecer pelo que decidem os burocratas das potências e da polícia global. Os dirigentes norte-americanos e russos podem quando muito retardar o que os movimentos materiais estão a impor. Nem Lavrov salva.

Nessa riquíssima encruzilhada, espera-se que os trabalhadores que vivem em todas as partes da assim chamada Ucrânia, e hoje apenas idolatram o grande revolucionário proletário com estátuas, nomes de ruas, etc., passem agora a agir praticamente com a contribuição do melhor que ele produziu para a verdadeira revolução.

Notas:
 
[1]  BBC News Europe – “’Casualties’ in Ukraine gun battles” – 13 Abril 2014 http://www.bbc.com/news/world-europe-27008026

CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA

EDIÇÃO Nº 1186 – Ano 28; 2ª semana Abril 2014.

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