Ao toparem com um iraquiano de 19 anos bateram nele com punhos e pedras e esfaquearam-no várias vezes. O moço morreu o mesmo dia num hospital.
Este assassinato racista é o brutal resultado duma sistemática caça ao imigrante que o Estado levou a cabo nas passadas semanas. A gangue de motoristas já atacara no mesmo distrito um romeno e um marroquino sem a polícia a molestar. No entanto, as primeiras duas vítimas conseguiram pôr-se a salvo a tempo.
Este assassinato na Atenas faz parte duma onda de violência racista na Grécia. Sábado um grupo de paquistaneses foi atacado violentamente em Iráclio, na ilha de Creta. Diversas lojas de imigrantes foram atacadas repetidamente na cidade portuária do Pireu. Bombas de fumo foram atiradas contra uma loja que serve como mesquita.
Quinhentos imigrantes deram entrada no hospital devido a ataques racistas durante a primeira metade do 2012. De acordo com informações do diário Ta Nea, que se baseiam nos dados de organizações não governamentais, esta cifra já logo duplica o total de vítimas de ataques similares durante o mesmo período do ano passado.
Estes ataques são o resultado direto duma política do governo apoiada pela UE. Uma semana antes do assassinato, 4500 polícias participaram numa operação de caça ao imigrante. Detiveram 6700 pessoas que pareciam estrangeiras e internaram 1555 em campos especiais, onde esperam pela deportação. Centenas deles já foram deportados.
O ministro da Ordem Pública, Nikos Dendias, do partido conservador Nova Democracia, recorreu, para justificar esta caça ao homem, a uma comparação entre os imigrantes e os "ocupantes" que protagonizaram "a maior invasão que a Grécia já experimentou". O ministro encorajou com estes comentários tão repugnantes os ataques contra imigrantes e colocou os perpetradores de ataques fascistas contra eles em pé de igualdade com os lutadores da resistência contra a ocupação nazi durante a II Guerra Mundial.
Ao longo dos últimos anos, o partido fascista Chryssí Avguí (Amanhecer Dourado), que tem um papel importante nos ataques contra imigrantes, foi sendo fortalecido pelos sucessivos governos gregos. Em 2004, Ta Nea já informara das estreitas ligações entre os fascistas e o aparelho do Estado.
O partido fascista atua mão a mão com a polícia. Durante manifestações de grupos de esquerda e anarquistas, polícias entregaram bastões e rádios aos fascistas por forma a eles incitarem a violência. Demais, a polícia permitiu que membros de Amanhecer Dourado levassem armas.
Antonios Androutsopoulos, membro de Amanhecer Dourado, matou um estudante de esquerda em 1998, mas evitou o arresto durante sete anos, muito provavelmente com a ajuda da própria polícia. Ele só foi arrestado em 2005. Embora houvesse muitas pessoas envolvidas no assassinato, apenas Androutsopoulos é que foi acusado.
Também em 1998, o jornal Eleftherotypia informou que tumultos racistas em Tessalônica foram organizados por "forças racistas no interior da polícia". Ninguém foi arrestado após os tumultos.
A listagem de colaborações da polícia com os fascistas continua até ao dia de hoje. Nas últimas eleições, o diário To Vima informa que 50% dos membros da polícia votaram Amanhecer Dourado.
A organização grega de defesa dos direitos dos imigrantes 'Expulsar o Racismo' documentou centenas de casos em que agentes da polícia descuidaram a vigilância durante ataques contra imigrantes. Também há testemunhos de estrangeiros golpeados nas comissarias de polícia, e polícias a proporcionarem a moradores locais o número de telefone de Amanhecer Dourado quando eles se queixam de imigrantes.
"Temos medo de sair às ruas", declarou um imigrante ao jornal diário Kathimerini. "É o Ramadã e nós fomos convidados a cear, mas não imos ir. Se saímos imos ser interceptados quer pela polícia quer por Amanhecer Dourado".
O diário alemão Die Welt informou duma mulher da Geórgia que foi assaltada sexualmente em Atenas por um membro de Amanhecer Dourado. Depois de eles acudirem à polícia, o homem regressou à tarde acompanhado de polícias da esquadra policial local e a fanfarronar: "Vês agora quem são os meus amigos?"
O governo grego, formado por Nova Democracia (ND) e o Partido Social-Democrata PASOK e Esquerda Democrática (DIMAR), apoia as forças fascistas por forma a criar uma atmosfera política em que qualquer oposição popular pode ser atacada violentamente. O seu principal objectivo é preparar a supressão brutal de qualquer movimento que vier a surgir dentro da classe trabalhadora contra as impopulares medidas de austeridade que exige a UE e que esnaquizaram a economia grega.
Os ataques sociais empreendidos pelo governo, que já espalharam amplamente a miséria e a pobreza e que ainda deverão intensificar-se, são de cada vez mais incompatíveis mesmo com as próprias regras democráticas.
Sob umas condições em que os partidos da "esquerda" burguesa como SYRIZA impediram a emergência de lutas da classe trabalhadora contra a UE e as políticas da burguesia grega, as forças fascistas aparecem como a única alternativa à atual configuração política. A medida que aumentam as tensões sociais, a elite no poder promove mais e mais as forças de direita, e as regras burguesas assumem um carácter ainda mais ditatorial.
Neste contexto houve pedidos para a proibição de Amanhecer Dourado, especialmente da banda do Comissário de Direitos Humanos do Conselho de Europa, Nils Muiznieks. A assinalar que o Amanhecer Dourado está entre "os partidos mais abertamente extremistas e nazis da Europa", ele pediu ao governo grego para "testar a legalidade do partido", de acordo com Kathimerini.
Porém, tal proibição não vai garantir qualquer proteção para os imigrantes ou pôr fim à influência das forças de estrema direita. Ainda mais, eles estão ligados e são protegidos pelas próprias forças de segurança do estado burguês grego que tal proibição encarregaria de reprimir o Amanhecer Dourado.
No sítio disso a proibição irá reforçar o aparelho do Estado e fornecerá uma escusa para criminalizar os opositores políticos e desmantelar as organizações políticas da oposição e da esquerda. Isto reforçará o aparelho da repressão e levará rapidamente ao autoritarismo.
A defesa dos direitos dos imigrantes requer a mobilização da classe trabalhadora para combater as políticas de austeridade da UE e a crescente influência das forças fascistas. Esta luta apenas poderá ser bem sucedida quando baseada numa luta socialista contra o capitalismo, que está cada vez mais virado para os elementos mais à direita.
Tradução de Alberto Lozano para o Diário Liberdade.
Foto: Alba Christiansen.