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Minha posição nessas eleições

311010_revBrasil - Diário Liberdade - [Leônidas Dias de Faria] Meu partido é o PPNR (Partido do Povo Nas Ruas), que vem dando mostras de seu efetivo poder na Grécia, na França, na Inglaterra, além das demonstrações cabais que já fez na Venezuela, no Haiti e Honduras, bem como em vários outros cercados em que se criam humanos para o capital. Nunca fui, não sou, nem serei petista ou algo que se aproxime dessa posição. Apesar disso, apoio o voto em Dilma, para que sejam criadas as condições de uma oposição real de esquerda.


Tal retomada das movimentações de esquerda não decorrerá, obviamente, da manutenção do PT no poder, mas será facilitada por ela. Aquilo que se promove por meio dos programas ditos assistencialistas à população carente é algo muito melhor (em todos os sentidos) que o produto do assistencialismo às instituições financeiras e demais instâncias do capital em geral reiteradas vezes praticado pelo PSDB, sob a batuta de FHC.

E o que se promove de melhoria para essa parcela da população?

Para irmos além do provérbio expresso na metáfora surrada da pescaria, segundo o qual devemos ensinar a pescar ao invés de dar o peixe (que, note-se, tem a limitação de não tocar na questão de que aquele que aprende a pescar irá pescar para outro, no rio do outro, com a vara do outro, para manter-se vivo enquanto alguém que enriquece outro...), é necessário dizer que esse contingente de pessoas que antes deveria se ocupar com a mera sobrevivência, por meio de atividades irregulares e irregularmente remuneradas, agora já não precisa de tal empenho desesperado de tudo o que tem em si (quase nada, por falta de escola e de boa educação familiar – que nada tem a ver com o “F” da “TFP”) na busca pelo mínimo para subsistir. Além disso, cabe dizer que a essas pessoas vêm sendo ofertadas oportunidades de crescimento efetivo em capacidade crítica, como decorrência não intencional de uma qualificação geral para o trabalho que se vem promovendo via inclusão no sistema de ensino público, que sofreu incremento considerável nos últimos anos.

Sem qualquer ilusão quanto a um levante popular, creio, sim, que a longo prazo teremos uma população em média mais esclarecida, mais apta a absorver e reforçar o pensamento, o discurso e a ação de esquerda. E isso não decorre da promiscuidade do governo FHC, com seu ministro Paulo Renato, que desestruturou as federais e ampliou a porção a ser abocanhada pelas escolas privadas. Decorre do programa que, entre outras coisas, criou unidades diversas do CEFET, além de 14 universidades federais, pra dizer o pouco que sei.

Votar em Serra é devolver o poder ao que há de mais baixo. Além disso, é reenviar o PT para a oposição patética que lhe era peculiar. Com o agravante de, no caso, o partido ter que fazer oposição a um PSDB rancoroso e raivoso (disposto a tudo, como nos mostra a hedionda campanha de seu lamentável candidato). Definitivamente, o quadro com o PT no governo e o PSDB derrotado e desmoralizado nas urnas, não obstante a baixaria eleitoral, é muito mais promissor do que o outro que se pode pintar com as tintas dadas...

Nesses dois cenários possíveis, as forças realmente progressistas ocupariam: ou a posição de pressionar o governo nominal e tendencialmente de esquerda para mudanças efetivas nessa direção, no caso de uma vitória de Dilma; ou a posição de apoiar o PT, como única legenda viável, em sua luta para a retomada de Brasília, para a remoção do PSDB do poder, no caso da vitória do canalha. Certamente, pressionar o PT para a esquerda (conforme projeto assumido pelas porções mais radicais do partido, associadas a outras legendas partidárias e instituições diversas) é algo mais produtivo que pressionar o PT em direção ao poder de Estado. E é por isso que me empenho pela configuração do primeiro cenário, com a Dilma na presidência.

Negar-se à conformação com a “escolha do mal menor” por coerência moral, por firmeza de princípios, em nome da liberdade, contra a alienação religiosa (com a qual a candidata do PT se sentiu constrangida a compactuar, sob pena de entregar ao oponente o que baixamente ele buscava com a estratégia do aborto) ou o que for, é algo egoísta. Pois, no caso concreto em questão, a fibra moral se afirma em prol do bem estar subjetivo próprio e contra a melhoria efetiva da vida de muitos milhões e a continuidade de tal melhoria – incremento que se mostra como algo desejável, de qualquer modo, por propiciar-nos convivas mais saudáveis.

Assim, votar nulo nessa eleição por firmeza de princípios é garantir o próprio sossego moral às custas do desassossego multidimensional de milhões, cuja ascensão social nos últimos anos (ainda que capenga e sob as diretrizes do capital) deixou sem sossego a porção mais mesquinha e reacionária de nossa opulenta elite, assim como aos aspirantes a nela se ingressarem (seja essa aspiração fundada ou não).

Pra finalizar, reitero que se trata da escolha do “mal menor”. Mas, a isso é necessário acrescentar que, quando se pode avaliar um mal como menor (na falta daquilo que se possa qualificar como um bem), já se têm razões suficientes para elegê-lo em detrimento do mal maior. Não?

Em respaldo à afirmação de que a candidatura Serra constitui o pior que pode ocorrer imediatamente, basta lembrar que o canalha não só se rendeu à pressão dos religiosos, como fez deles um instrumento para a sua própria promoção. Foi esse mau caráter, e não a Dilma, que recorreu a isso como estratégia de campanha, do que se têm abundantes provas à disposição de quem se interessar. E a Dilma, se ficasse apegada a seus princípios (e não fosse circunstancialmente hipócrita), entregaria de mãos beijadas àquele facínora o que ele mais quer a qualquer preço. E, fazendo isso, ela deixaria “órfãos” aqueles que nela confiam, ainda que com moderação e cautela.

Desse modo, preservando esse ponto de sua integridade (a firmeza quanto à questão religiosa etc.), ela entregaria todos os outros. A primeira mulher a chegar às portas do Palácio do Planalto, mesmo depois de haver pego em armas contra a corja asquerosa dos quartéis (que lá permanece, sendo alimentada por nós, apesar de haverem dado golpe tão duro nas movimentações para a esquerda que se ensaiavam no país, matando e torturando centenas de milhares de militantes, simpatizantes e familiares); essa mulher, que lutava enquanto o FHC fazia bacanais em Paris e o Serra se “auto-exilava” no Chile, e que por isso querem dizer ser um monstro, agiria monstruosamente se inviabilizasse sua própria eleição, expressamente desejada por muitos milhões de outras pessoas, cujo apego à religião é mais decorrente de fraqueza, debilidade, do que de convicção profunda em tais ou quais dogmas.

 

Pau mandado por pau mandado, ambos o são até certo ponto: a primeira é herdeira do Lula; o segundo, herdeiro do FHC. E é sob orientação desse “código genético” que agirão se forem  eleitos. Então, o que está em jogo não é encontrar aquele que se conforma com as nossas próprias posições (que, pelo menos no meu caso, é algo ausente do horizonte) ou negar-se a optar; mas, contribuir com os meios limitados à disposição para a construção lenta e paciente de um ambiente mais propício para o fortalecimento e a propagação dessas mesmas posições. Desse modo, negar-se aqui e ali em prol da continuidade do governo PT é mais digno que abster-se em momento tão importante. E isso por que pode contribuir para a criação de condições para irmos além da mera adequação de nossa conduta pessoal aos valores que ostentamos; para irmos em frente na construção de um mundo compatível com tais valores.

Espero que entendam tais considerações não como um fraquejar de princípios e uma conversão ao politicismo (convicção ingênua de que por dispositivos e atos políticos se pode promover uma regeneração do tecido social, sem qualquer intervenção radical nas relações de propriedade). Ao invés disso, espero que as percebam como uma reprodução do alerta dado por Marx contra os proudhonianos: ainda que a esfera política não seja fundante nem definitiva, ela é efetiva; assim, a pior posição política possível é aquela de abandono do Estado, ainda mais nas garras da porção mais encarniçada da direta, no caso representada pelo desprezível senhor José Serra.

* Professor e filósofo e pesquisador de Karl Marx.

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