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Dinheiro nazi financiou enriqueceu Banco Pastor e financiou fundaçom da Finsa e Fenosa

210910_volframioGaliza - Galizalivre/Novas da Galiza - [H. Carvalho]  A extracçom de volfrámio para nutrir a maquinaria bélica dos nazis na Segunda Guerra Mundial significou a maior febre mineira do Estado no século vinte e tivo o seu núcleo principal nas minas galegas.


Num confronto bélico em que Franco mantinha oficialmente neutralidade, a Galiza foi base para submarinos, aeródromos e tecnologias de comunicaçons alemás, assim como centro de redes de espionagem e um território fundamental para o fornecimento de matérias-primas decisivas para sustentar a capacidade militar de Adolf Hitler. O dinheiro deste foi determinante para o enriquecimento do Banco Pastor, a criaçom da Unión Fenosa ou a dotaçom de capital para constituir a madeireira Finsa.

A guerra entre a China e o Japom iniciada em 1937 fechava ao aparelho nazi o acesso à maior reserva de volfrámio do mundo, localizada no primeiro destes países. Daí que a Alemanha pugesse os seus olhos na Galiza, que dispom dos melhores jazigos deste minério na Europa. O volfrámio era imprescindível para o endurecimento das blindagens dos seus couraçados e para fortalecer a capacidade destrutiva dos seus projécteis. E o facto de Franco ter que afrontar umha forte dívida polo apoio nazi na Guerra Espanhola propiciou que o líder das potências do Eixo contasse com facilidades para obter esta prezada matéria-prima que exportava através de empresas controladas polo seu capital com sede em território galego.

Por volta de vinte mil galegos e galegas trabalhárom oficialmente nas minas e provavelmente muitos mais figérom-no de maneira clandestina, procurando o material em áreas sem explorar ou ao longo das madrugadas nas minas custodiadas pola Guarda Civil e o Exército espanhol. Enquanto o jornal de um operário da época rondava as 19 pesetas, qualquer pessoa podia ganhar 200 por vender um quilo de tungsténio. Ao longo da Segunda Guerra Mundial a extracçom ilegal deste minério forneceu umhas quinze mil toneladas, enquanto que a extraacçom controlada polo Estado serviu para vender aproximadamente metade, conforme aponta o engenheiro da empresa Norcontrol, Joaquín Ruiz Mora. Este factor permite entender o impacto sem precedentes que representou para a economia galega a venda do volfrámio, tanto para os empresários e o aparelho do regime fascista como para os galegos e galegas sem recursos.

O catedrático de História das Instituiçons Económicas da Universidade de Santiago, Joám Carmona, considera que se tratou da maior febre mineira do século vinte no Estado espanhol. Assinala o professor que "em nengum outro sector económico tivo Galiza tanta importáncia no cenário mundial", levando o nome das minas galegas a "todas as chancelarias".

No entanto, a vantagem militar que proporcionava o uso deste minério aos nazis foi conhecida polo bando aliado, que começou a comprar de forma maciça volfrámio na Galiza com o único objectivo de que nom fosse parar às maos alemás, dado que desconheciam o processo de elaboraçom que possibilitava o seu aproveitamento militar naquela altura. Desta maneira, entre 1942 e 1944 o preço do tungsténio iria multiplicando-se por quatro a cada ano, forçando a intensificaçom dos trabalhos de extracçom e incrementando o seu valor de venda polos fortes impostos que aproveitou para impor o regime de Franco sobre a sua exportaçom.

No final da guerra e com a balança já inclinada para as forças aliadas, ingleses e americanos aumentárom a pressom sobre o regime espanhol para forçá-lo a impedir a venda de volfrámio aos nazis, trás constatarem o fracasso da política de compras preventivas. Medidas diplomáticas e, sobretodo, o embargo do comércio de petróleo para o Estado obrigárom o general Franco a bloquear a saída deste minério para a Alemanha. A chamada febre do volfrámio acabava e só ressuscitaria entre 1948 e 1952 com a Guerra da Coreia, ainda que nessa altura os compradores iriam ser americanos e os vendedores estavam mais estruturados, sendo na altura o comércio liderado polo asturiano Grupo Fierro.

Nazis financiárom fortunas de hoje

O fenómeno da extracçom do volfrámio suscitou certa projecçom bibliográfica e mediática, mas nom existem estudos que analisem a incidência do mesmo sobre certos empórios empresariais que hoje se mantenhem na Galiza.

O caso mais destacável é o do Banco Pastor, cujos lucros obtidos polo volfrámio o introduzírom entre os aliados financeiros com mais poder e ligaçons no seio do aparelho fascista. Pedro Barrié de la Maza apoderava-se presidência do Pastor no início da década de '40 e umha das suas primeiras medidas relevantes consistiu na compra das estratégicas minas de 'Sam Fins' em Lousame através das Indústrias Gallegas em 1941. Um ano depois começava a febre mineira e com ela o enriquecimento acelerado do banco, o que proporcionou a solvência suficiente ao banco para criar em 1943 a eléctrica Unión Fenosa e pouco tempo depois introduzir-se na Astano. O regime protegia a extracçom e comercializaçom do seu tungsténio ao considerá-lo "minério de interesse para a defesa nacional" e progressivamente Barrié foi-se afiançando como um dos empresários de referência do Franquismo na sua consolidaçom.

Muito mais desconhecida, ainda que nom por isso falta de relevância, é a relaçom da febre do volfrámio com a origem da madeireira Finsa. O empresário compostelám José Parga Moure conseguira obter antes dos anos dourados a maior parte das minas de Varilongo em Santa Comba, outro dos núcleos centrais da extracçom do minério, que chegou a ter empregadas cerca de quatro mil pessoas. A sua fortuna emergiu em consequência destes lucros, conforme aponta Julián Rodríguez em Señores de Galicia, e serviu para que se convertesse num sócio capitalista determinante de Manuel García Cambón, a quem respaldou financeiramente quando este se dispujo a criar em 1946 a hoje transnacional madeireira Finsa.

Para além dos que já antes se dedicavam ao mundo empresarial, houvo muitas pessoas influentes que aproveitárom a febre do também chamado ouro negro para se incorporarem nos negócios. Foi o caso de Jacinto Amigo Leira em aliança com o médico Pedro Abelenda, que planificara a exploraçom das importantes minas de Monte Neme e conseguia o apoio do influente Amigo Leira, na altura juiz local. Optárom polo caminho mais cómodo e lucrativo: cedérom em concessom a exploraçom à sociedade nazi Sofindus e limitárom-se a contabilizar os réditos que engrossárom os seus cofres. Jacinto Amigo –logo conhecido como o Tio Chinto– pouco tardaria a vir a ser alcalde de Carvalho e a conseguir relaçons com altas autoridades militares, judiciais, empresariais e diplomáticas. Ao estilo das máfias, foi o autêntico senhor de Carvalho, o que repartia favores, arranjava apoios do regime para as suas finalidades e realizava labores como filantropo na sua área de influência. Em dez anos, a localidade bergantinhá passava de ter 1500 habitantes para 3000 em decorrência da incidência da exploraçom mineira sobre a sua economia.

Governantes locais, dirigentes do regime, elementos policiais, empresas e entidades financeiras de toda procedência participárom dos lucros da principal rubrica em termos de exportaçom do Estado espanhol nos anos de explosom da febre.

O pagamento de favores a Hitler acaba por lucrar o Franquismo

Favorecer a exportaçom de volfrámio como pagamento polo apoio militar e económico da Alemanha na Guerra Espanhola acabou por ser o principal apoio financeiro exterior para o regime nos seus primeiros anos de história. A taxa sobre o tungsténio vendido fora chegou a atingir as 100 pesetas por cada quilo, o que só em 1943 proporcionou ao Estado rendimentos no valor de 600 milhons de pesetas sobre um valor de exportaçom de 1500 milhons, conforme assinala Joám Carmona num ensaio publicado pola Universidade de Alacante na obra colectiva Los Empresarios de Franco. O Departamento do Estado norte-americano constatava em 2001 através do Relatório Eizenstat que o governo espanhol cobrara mesmo com ouro roubado aos judeus as suas vendas de tungsténio.

Aos pagamentos obtidos com dinheiro nazi haveria que somar os recebidos por parte das compras de ingleses e norte-americanos, o que motivou que o boom empresarial comportasse importantes réditos para um Estado em crise que tinha o dever de se fortalecer para manter o regime fascista que acabava de impor polas armas.

A Galiza na Segunda Guerra Mundial

A suposta neutralidade de Franco na Segunda Guerra Mundial foi realidade umha falácia constatável através dos factos. Para além do envio da Divisom Azul que a Falange promovera e do favorecimento na criaçom de empresas para o comércio do tungsténio, o Regime consentiu a instalaçom de bases para submarinos nazis em Ferrol e Vigo (cidade onde fôrom atacados três submersíveis alemáns polas potências aliadas), onde repostavam, eram reparados em estaleiros e também onde os seus soldados feridos recebiam atendimento médico.

Em 1941 elementos nazis construíam em Castro de Rei o aeródromo das Roças –ainda em funcionamento– para permitir a manutençom continuada das três antenas de telecomunicaçons de mais de cem metros de altura que levantava paralelamente a poucos quilómetros, na aldeia de Arneiro, dentro do termo municipal de Cospeito. Estas serviam para localizar e orientar tanto barcos como submarinos e avions. E a zona de Fisterra servia também aos alemáns para disporem dum observatório estratégico com que seguir os passos da marinha aliada em águas atlánticas.

A releváncia da Galiza nesta guerra em virtude da sua posiçom logística em favor das potências do Eixo motivou que as principais cidades galegas fossem lugar de asilo para importantes homens de negócios e espias alemáns. E, consequentemente, propiciou a apariçom de outros espreitadores ligados às potências aliadas, que mesmo chegárom a preparar umha invasom do país pola costa numha zona entre Ferrol e a Costa da Morte, o que teria originado a realizaçom de manobras militares e a instalaçom de quartéis na zona por parte do Franquismo, tal e como assinala o jornalista Rafael Lema num artigo publicado em A Nosa Galicia.

Os favores que Franco devia pagar incluírom a incorporaçom de centenas de prisioneiros de guerra nos trabalhos de extracçom de tungsténio. Nas minas de Casaio, em Carvalheda de Val d'Eorras, fôrom explorados 463 reclusos republicanos. Tem-se conhecimento também da utilizaçom de presos nas minas de Beariz e de Silheda, assim como da presença de elementos da guerrilha antifranquista nas minas com o objectivo de sabotar as entregas de volfrámio para os nazis.

Finalizada a Segunda Guerra Mundial, os próprios portos galegos servírom para que o regime de Franco facilitasse a fugida de importantes dirigentes nazis para a Argentina e outros países, a quem antes proporcionáram identidades falsas para passarem desapercebidos e eludirem desta maneira o seu processamento polos tribunais internacionais.

Junta e Estado subsidiam reabertura de minas

Joaquín Eulalio Ruiz Mora lidera a sociedade de recente criaçom Grupo Incremento, que já tem reconhecidos os direitos de exploraçom das minas de Santa Comba e Lousame, onde pretende voltar a fazer rendível a extracçom de tungsténio, ainda que só preveja contratar nesta ocasiom um número de trabalhadores que ronda a centena. Nom é conhecida a finalidade que iria ter a venda do minério e o dirigente empresarial tampouco ajuda a desvendá-lo: "trata-se de um projecto industrial e poucos detalhes mais podo dar", declarava a diferentes meios de comunicaçom. Tanto a Junta do Bipartido como a actual subsidiárom com diversas quantias o seu projecto, bem como o Ministério da Indústria, chegando a ultrapassar os dous milhons de euros em ajudas públicas. E optam a conseguir licenças para explorar também os jazigos existentes nos Brancos e em Baltar.

Por sua vez, vários Concelhos –entre os quais se encontram os destinatários do Grupo Incremento e o de Vila de Cruzes– estám a promover reabilitaçons das vivendas mineiras e partes das exploraçons com o objectivo de promover a difusom da sua história e para potenciar a atracçom turística das suas localidades.


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