O Partido dos Trabalhadores (PT), maior partido da esquerda institucional da América Latina, realiza neste final de semana o seu IV Congresso Nacional. Ao longo dos seus 31 anos de existência este é o primeiro grande encontro da legenda onde já não existem mais os embates ideológicos de tempos atrás. De partido estruturado sobre várias tendências e agrupamentos internos divididas entre as mais variadas ideologias de esquerda (trotskistas, maoístas, leninistas, marxistas, guevaristas, comunistas, socialistas e sociais democratas), o PT de hoje vive a sombra de apenas 2 correntes internas que não se distanciam muito ideologicamente.

Com a saída dos “esquerdistas” que organizaram os seus próprios partidos (PSTU, PCO e PSOL) a linha da tendência majoritária (Construindo um Novo Brasil –CNB) vem se apropriando de todas as instancias partidárias e levando consigo o grupo menor denominado de Mensagem ao Partido. O que demonstra que a outrora “democracia petista” vai, aos poucos, sendo sepultada e em seu lugar vai sendo edificada a política do pensamento único, monolítico. Não há mais lugar para velhos debates teóricos e programáticos e nem para as disputas ideológicas que marcaram a história do PT.

O PT do século 21 é uma sombra desfigurada daquele partido que conseguia aglutinar milhões de trabalhadores, estudantes e a juventude em geral. O PT deste século é o partido do “lulismo” e do “dilmismo”. É o partido das alianças espúrias, dos acordos secretos e dos conchavos com as classes dominantes. Mais que partido da ordem o PT é o partido do pragmatismo radical. Danem-se antigas bandeiras, antigos sonhos e princípios. O que guia o partido não é mais o velho sonho socialista. Em seu lugar cresceu uma espécie de monstro institucional calcado no maquiavelismo distorcido pelos interesses políticos e econômicos dos atuais donos da legenda. Até podemos afirmar que o PT é hoje uma pequena oligarquia.

Este IV Congresso Nacional do PT vem mostrar publicamente como o capital pode se apropriar das organizações políticas criadas pelos trabalhadores. Doações financeiras enormes de grandes grupos econômicos compraram a rebeldia dos petistas transformando-os em cordeirinhos domesticados. O resultado disso foi a votação do novo código florestal brasileiro onde a maioria dos parlamentares do PT votaram junto com os representantes do agronegócio, ruralistas e latifundiários aprovando a devastação de nossas florestas e a destruição do meio ambiente. Em tempos passados o partido teria debatido internamente essa questão e votado em bloco contra o latifúndio. Essas são as marcas do lulismo, uma ideologia neoconservadora calcada no simplismo econômico que faz da política petista uma extensão da velha política das oligarquias brasileiras. Daí as alianças com a família Sarney e com os Collor de Mello.

É neste seu IV Congresso Nacional que o PT vem dizer publicamente que não existem mais diferenças entre ele e os seus atuais parceiros de governo Dilma e que as transformações estruturais tão prometidas para a sociedade brasileira foram trocadas nos balcões de negócios pelo realismo político, pela demagogia e pelo assistencialismo puro e simples. Lógico que muita coisa foi feita nestes 10 anos de governos da legenda, mas o essencial, como a reforma agrária, foi posto de lado para não afastar a tal governabilidade tão em moda nos discursos dos principais dirigentes do PT. Uma governabilidade que implica no abandono da própria história do partido e a razão de sua criação.