Marcando um recorde quantitativo no que vai do ano em matéria de manifestações públicas, marcharam e concentraram-se ao redor de 25.000 pessoas de todas as tonalidades políticas e, sobretudo, de nenhuma. Entre os convocantes à jornada de protesto encontravam-se as autoridades e estudantes das principais universidades tradicionais e de várias privadas, os professores e os jovens da Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundários (Aces).
Por sua vez o presidente do Colégio de Professores, Jaime Gajardo, acentuou a ideia de que na mobilização pelo ensino público, os docentes não só devem solidarizar com os estudantes, como também "criar uma frente comum" para enfrentar os objetivos. Entretanto, a presidenta da Federação de Estudantes do Pedagógico (Universidade Metropolitana de Ciências da Educação), Camila Donato, foi enfática quando expressou que "dizemos ao presidente Sebastián Piñera que se não nos escutar, após o 21 de maio (conta anual do governo) vamos radicalizar as mobilizações. Os desempregos e as tomadas não se vão fazer esperar. De uma vez por todas o Estado terá que se fazer cargo de suas universidades, e os reitores deverão ser eleitos com consulta aos estudantes."
Assim mesmo, o presidente da Federação de Estudantes da Universidade Tecnológica Metropolitana (UTEM), Eduardo Salazar, disse que "em nosso caso, o reitor levou 22.000 milhões de pesos para a casa dele. Isto também ocorre em outras casas de estudos irmãs, como a Arturo Prat e a Universidade dos Lagos. E por isso pedimos a todas as universidades regionais onde ainda palpita o coração rebelde, que nos acompanhem nestes momentos duros para a UTEM. Somos o melhor exemplo da crise da educação. Não vamos deixar que fechem nossas universidades, e estamos dispostos a pôr barricadas para defender a nossa."
A presidenta da Federação de Estudantes da Universidade de Chile, Camila Vallejo, a partir do palco central montado a 6 ruas da Casa de Governo, assinalou à multidão que "este modelo não foi capaz em 30 anos de garantir nossos direitos fundamentais (?) Hoje nenhuma autoridade deste governo ou do Acordo são nem foram capazes de reconstruir um sistema de educação pública vítima de uma longa crise."
Patricio Indo, presidente da Federação de Estudantes da privada Universidade Diego Portais, indicou que "nós temos 4 pontos fundamentais que reivindicar: fim ao lucro na educação superior privada; a democratização das universidades privadas; que o governo se faça cargo do endividamento dos estudantes, cujos interesses são leoninos; e que a educação não pode ser uma mercadoria. A educação está metendo água, tanto no setor público como privado."
Por seu lado, Gustavo Palma, porta-voz do curso de História da Universidade de Santiago (ex UTE) disse que "devemos deter a agenda privatizadora do governo. Achamos que, apesar da enorme participação conseguida, seríamos muitos mais se se procedesse organizando democraticamente e a partir da base a luta, e não só nas instituições superestructurais. O objetivo estratégico é que o ensino, em todos seus níveis, esteja ao serviço dos trabalhadores e o povo."
A REPRESSÃO
Como já é costumeiro, a marcha e o ato mesmo estiveram fortemente escoltados por carabineros de Forças Especiais, inúmeras carros lança-águas e lança-gases lacrimogêneos que dantes de que terminassem os discursos e começasse a apresentação dos artistas convidados, se entregaram à repressão contra os jovens manifestantes. Até o fechamento desta informação, oficialmente eram ao menos 30 os estudantes detidos.
Em Valparaíso, e em outras cidades e regiões do país efetuaram-se atos similares aos de Santiago.
Sem dúvida, a magnitude da concentração abre as possibilidades de um novo ciclo de lutas não só estudantis, como de toda a sociedade afetada por uma educação pública abandonada desde a ditadura de Pinochet, a inícios dos 80 do século passado. Na atualidade, o ensino escolar privatizado e subsidiado ultrapassa o público, em um dos países do mundo com maior segmentação de classes no plano educativo, e onde a excelência do ensino está associado a uma mercadoria de maior ou menor preço, segundo seja a capacidade de pagamento das famílias. O 12 de maio ficará registrado como um golpe de força dos jovens ao capitalismo de vanguarda no Chile.