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Martin Wu, guitarra e voz dos The Homens: 'Nom tenho tratos com os moinantes da SGAE'

homens01Galiza - - [Antom 'Papaqueijos', para o Diário Liberdade] Martin Wu tem por costume gatilhar na guitarra e cantar em The Homens (http://www.thehomens.com), um triângulo musical completado por Roi (baixo) e Xocas (bataca) no qual abrolhou umha quarta aresta de cor branca e preta (como o teclado que toca Cristovo). Sete anos leva esta gente a zoupar nos palcos e, ainda que tenham o seu habitat natural em Compostela, os seus lugares natais orbitam no eixo Burela-Vigo.


Já vam 5 discos editados por estes "Homens" desde que se associárom, mas dim que estám já a planificar o sexto. Trabalham no subsector do power-pop de garagem e sabem fazer tremer as perninhas daquela pessoa que se encontrar a menos dum raio de 4,32 metros dos seus amplificadores. Precisamente o Sr. Wu é quem fala hoje connosco.

[AP] - Boa tarde/noite Martin. Antes de mais, para os nom iniciados, o que é isso do Power-Pop? Para que serve?

[Martin Wu] - Bom dia! Sendo estritos, é algo que se fazia a finais dos setenta e princípios dos oitenta depois do punk, com muito peso das guitarras e, ao tempo, das harmonias de voz: The Only Ones, The Beat, Elvis Costello, os Buzzcocks... e depois Redd Kross ou Teenage Fanclub.

Nós ao princípio estávamos mais perto de isso todo, mas suponho que com o tempo fomos desapegando-nos. Tampouco quigemos nunca ser unha banda de género, seria um nojo. O do power-pop, contodo, é umha etiqueta muito elástica. Eu acho que inclui tudo o que tiver melodia e energia.

[AP] - Como vês o panorama musical rockeiro na Galiza quanto a grupos, seguidores ou salas de concertos?

[MW] - Vejo-o resistente e com um problema. Resistente porque continua a haver grupos, cada vez mais variados e mais interessantes, e quase sempre há gente para apoiá-los, na medida que for.

Também com um problema, porque nom tenho bem claro que haja relevo geracional suficiente. Pondo-me um pouco 'velhote', acho que os rapazes de agora andam a outras cousas, quase todas relacionadas com gastar dinheiro em centros comerciais.

[AP] - Pensas que o rock precisa de apoio administrativo e ajudas públicas?

[MW] - Penso que, muitas vezes, com que nom houvesse mais impedimentos seria suficiente.

Também é certo que vivemos num Estado mussoliniano no qual nada ocorre fora do próprio Estado, e aqui chupam subvençons desde os clubes de futebol às elétricas, os concessionários de carros, os escritores, os leiteiros e, também, os que se dedicam à música e arredores.

Além disso, aqui estamos afeitos a que nos concertos nom pague nem o primeiro, principalmente porque os concertos que a gente vai ver som os da Panorama e demais conjuntos de reciclagem de hits.

homens02[AP] - Como está a cousa em Compostela? Como dim maliciosamente alguns, "Santiago é unha aldeia"?

[MW] - Nom penso que o digam maliciosamente, penso que som reducionistas. Galiza é umha aldeia.

Em Santiago há muita programaçom cultural fastuosa e oficial, sobretodo no ano passado, com toda a história do Jacobeu. É, como comentava antes, a epítome do Estado cultural mussoliniano.

Sempre houvo também umha cena rock muito ativa, e muitas das cousas mais interessantes que se fam na música galega saem daqui. O que se passa é que em Santiago penteamo-nos menos que noutros sítios, isso é certo.

[AP] - Qual é a pré-história dos Homens? Quem sodes? De onde vides? Aonde ides?

[MW] - Somos quatro. Xocas, Roi e mais eu começamos com o grupo a finais do 2004, e os três vínhamos de mundos distintos: Xocas e mais eu do hardcore e do punk, Roi mais do rock sessenteiro.

Juntou-se-nos no 2008 Cristovo, que tinha tocado em grupos de pop em Vigo e que nos fijo medrar muitíssimo como grupo. Vamos para a tumba, como todo o mundo suponho, o que se passa é que alguns corremos mais do que outros.

[AP] - Começastes 3, agora sodes 4. Progressom aritmética? Geométrica?

[MW] - Progressom simplesmente, espero. Cristovo chegou quando começávamos a fazer as músicas para Cuarta potencia. Andávamos procurando algo que nos desse mais alternativas melódicas e, ao tempo, nos figesse mais contundentes no directo. Resultou que ele acabava de chegar a Compostela e tinha vontade de tocar. Foi questom de minutos conectarmos, e acho que somos muito melhores desde aquele momento. Passamo-lo muito melhor, isso é claro.

O único inconveniente é metermos na carrinha o seu impossível suporte de teclados, conhecido tecnicamente como "a puta merda".

[AP] - Que tendes pensado fazer em 2011? E em 2012? E em 2034?

[MW] - Este ano estamos fazendo umha turné em acústico que durará até maio, com um curso prévio de música caseira que ministra o nosso amigo Carlos Valcárcel, de Projecto Mourente. Depois nom sabemos o que faremos, suponho que escrever cançons novas e gravá-las se tivermos temas que nos pareçam bons e massa para pagar o estúdio. Em 2034, seremos todos carecas (alguns bastante antes, temo).

[AP] - Viajades muito polo mundo: Catalunha, Portugal, Polónia... A que mais lugares tendes ido tocar? Como veem os grupos galegos por aí fora?

[MW] - A verdade é que sair da Galiza é o que mais nos custa, e já nos fode. Tocamos com certa assiduidade na Catalunha, em Euskal Herria e por cima de tudo em Portugal. Também figemos as nossas incursons europeias tocando pola Alemanha e pola Polónia. Porém, nunca tocamos em Madrid, por exemplo; por algumha razom, até aí nom demos chegado. Confio que o remediemos em breve.

Acho que os grupos galegos surpreendemos quando saímos, porque somos pouco conhecidos e normalmente costumamos fazê-lo bastante bem e montar festa.

[AP] - Quais som as fontes de sabedoria das que mamades musicalmente? E as que nom som tam sábias?

[MW] - Depende do dia e da hora do dia. Eu criei-me entre o hardcore de Minor Threat, as fitas da Creedence do meu pai e os pasodobles de Texidor e Soutulho, daí que escuite um pouco de todo, ultimamente mais cousas relacionadas com a psicodélica de antes (Os Mutantes, os primeiros Pink Floyd, Tomorrow) e de agora (o último disco de Deerhunter, que é bestial, por exemplo), e cousas mais enfadadas como Experience.

De todos nós, o mais moderno é Roi, que nos tenta levar polo caminho da luz, apesar dos desgostos que lhe dou com Simon & Garfunkel e outras cousas rançosas similares.

[AP] - Achas que o facto de cantares em galego vos abriu portas no mundo da música, ou nem por isso?

[MW] - Um pouco de todo. Há que reconhecer que cantando em galego há gente que che fai caso ainda que em principio o rock nom lhe interesse em absoluto, por militância nuns casos, porque lhe parece algo curioso noutros, mas também é certo que há quem che ponha a cruz em cima antes de te escuitar.

De todos os jeitos, cantar em galego é o natural para nós, é a nossa eleiçom e nom nos queixamos.

homens03[AP] - Tendes o vosso centro operacional no Castinheirinho. Conta um pouco o que se coze ali, que grupos há, a que vos dedicades?

[MW] - O Castinheirinho é, desde princípios dos 90, o bairro da Casa Jurásica, o local de ensaio do que saírom Fame Neghra, Samesugas, Redullos, Royalties etc, e polo qual passárom num momento ou noutro metade dos grupos de rock de 'Santiago DC'.

Ainda que continue a estar no nosso coraçom, o ano passado tivemos que mudar-nos de bairro, porque o AVE passou por cima do local, quase literalmente. Agora mesmo ensaiamos em Meijom-Frio os Samesugas, os Royalties, nós, um grupo novo de punk com gente dos Samesugas que se chamam Tommy Gun e mais o supergrupo L'Uomo di Gomma, formado polos mais borrachos de The Homens, The Lorchas e Samesugas.

[AP] - O vosso último disco 'Cuarta Potencia' está disponível de borla para o público (http://thehomens.com/). É este o modo de trabalhar dum grupo de rock no novo milénio? Que opinades da Lei Sinde e dos direitos de autor?

[MW] - Suponho que é a maneira de trabalhar que mais se ajeita para grupos como o nosso, no qual queremos dar a conhecer o que fazemos. Umha pinga num oceano de informaçom. Nós nom vivemos disto. Assim também é mais fácil a decisom.

A respeito dos direitos de autor, tenho sentimentos encontrados porque me dá que alguns saímos perdendo sempre. Por umha parte, o sindicato obrigatório esse dos inapresentáveis da SGAE está a cobrar o dinheiro que a nós nos corresponderia pola emissom das nossas músicas. Nom há maneira de cobrar se nom fores sócio e, sinceramente, tratos com esse tipo de moinantes eu nom tenho.

Além disso, por muito que nos queiram romper a cabeça, o que está em crise é o modelo industrial atual de música, saturada de intermediários e de espertinhos que se tenhem que reconverter para continuar a ganhar massa. Também se reconvertêrom os estaleiros, nom é algo novo.

Por outra parte, há certa costume de que em eventos benéficos, discos colectivos etc, os únicos que vaiam grátis sejam os músicos, enquanto os do som, os das birras, os da fábrica de cedés e os que abrem a porta, cobram.

[AP] - O disco está editado com o veterano selo compostelano 'Lixo Urbano'. Voltando às origens?

[MW] - Foi um orgulho editar Cuarta potencia com Lixo Urbano. Eu já sacara um disco com eles... no ano 1998! Entom, imagina a importância que lhe damos.

Lixo Urbano, e sobretodo a sua cabeça pensante, Alberte Leis, baixista dos Samesugas, é um referente para os que nos criamos no hardcore dos noventa.

[AP] - Tendes algum projecto paralelo a 'The Homens'?

[MW] - Como che dizia antes, Roi anda metido em L'Uomo di Gomma, um grande grupo composto polos meus músicos favoritos em cada um dos instrumentos: ele no baixo, Ramón dos Samesugas na bateria, Jaime Pombo dos Lorchas na guitarra e Josete Torres, também dos Lorchas, na barítona e na voz. Já gravárom um EP tremendo, que se pode escuitar e descarregar na ligaçom http://luomodigomma.bandcamp.com/

Eu, pessoalmente, tenho o projecto de pendurar algum dia uns estores e umhas cortinas que me caírom haverá um ano, mas é complicado.

[AP] - Copyright? Copyleft? Copypaste?

[MW] - No nosso caso, copyleft. Todas as nossas cançons podem descarregar-se da Internet, e compartir-se. Tenhem licenças Creative Commons.

Alguns dim que também nos dedicamos ao copypaste, de facto, aparentemente podemos fazer até um disco de pandeiradas ou de dodecafonismo e vam dizer-nos que se parece a Los Planetas, mas juramos que é involuntário e/ou sem maldade.

homens4[AP] - Pergunta obrigada. A música neste país dá para comer ou simplesmente para beber?

[MW] - O dia do concerto dá para cear, beber e algumha cousa mais. Para viver nom, afora uns poucos que se dedicam ao folk e outros muitos que se dedicam a essa praga horrível que som as orquestras.

Nós temos os nossos chóios mais ou menos decentes durante a semana, e depois rocanroleamos.

[AP] - Rickenbaker? Fender? Gibson?

[MW] - Igual que no futebol, nom sei de que equipa sou, mas sim sei que nom sou do Madrid, nas guitarras sei que nom sou da Gibson. Tenhem um preço muito acima do que realmente custam.

Ainda que continue apaixonado pola minha Rickenbacker 330 e algum dia, se me tocar a LotoTurf, pegarei nalgumha outra, a minha guitarra ideal continua a ser a Fender Telecaster. Vale para todo e é indestrutível, e fala-che alguém que lhe fijo passar severos testes a base de concertos, golpes de correia e paus vários contra o meu querido baixista.

Com esta digressom acústica estou a descobrir também o gosto de tocar guitarras desligadas, por isso, se alguém quiger fazer-me feliz, já sabe que com qualquer cousa do catálogo de Martin ou de Taylor vai conseguir.

[AP] - Feijóo, Tourinho, Fraga?

[MW] - Postos a escolher, recomendaria cortar as veias em sentido vertical. Disque é o mais efectivo.

[AP] - Existe a indústria discográfica galega e/ou a indústria musical em galego?

[MW] - Nom e nom, polo menos no que se refere ao pop. Mesmo muitos selos que anos atrás apostárom na ediçom de discos de rock acabárom dobrando-se ao que há, que é a ditadura da gaita.

[AP] - Se agora mesmo aparecesse pola Avenida Romero Donalho um tipo de Ganímedes a perguntar por música galega, o que lhe recomendarias?

[MW] - Que pegasse no Ryanair... Nom, a sério, recomendava-lhe escuitar primeiro os Ressentidos e os Diplomáticos, que som os realmente grandes; depois que desse umha oportunidade a todo o que se passou neste país no ultraunderground dos noventa (o hardcore dos Mol, dos Dirty Barriguitas, de Mala Oxtia, dos Fame Neghra seminais...); depois dizia para escuitar o de agora, o Projecto Mourente, os Samesugas, os GalegoZ, Fluzo, os Niño y Pistola e, finalmente, que fosse de festa com os Ulträqäns, se tiver o que há que ter.

[AP] - Quais fôrom os momentos mais odiosos na vossa trajetória rockeira? E os melhores?

[MW] - O pior, as ressacas.

O melhor, compartir carrinha e restaurantes com Xocas, Roi, Cristovo, Tomás Ageitos, Mourente e todos os outros. Também toda a gente que conhecemos nestes últimos anos e poder tocar com ídolos como Santi García, os Super Furry Animals, Nueva Vulcano, as Charades ou Antón Losada.

 

Fotos: Janite


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