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100311_reinoGaliza - A Gentalha do Pichel - Galiza foi o primeiro reino da Europa. É possível que surpreenda esta afirmaçom, e a principal razom do desconhecimento procede de uns evidentes critérios ideológicos emanados da historiografia espanhola, negadora da nossa história e ocultadora dos nossos direitos como povo.


Mas por sorte, ficou umha grande base documental, artística, numismática e arqueológica a salvo das destruiçons, e essas fontes analisadas com rigor historiográfico demonstram claramente que a nossa História como Reino se inicia muito cedo, mesmo quando ainda estava vigente o Império Romano.

Nos inícios do século V o Império Romano vive umha crise latente, e umha série de povos germánicos aproveitam o contexto para atravessarem a fronteira do Rin. Um desses povos foi o Suevo, que assenta na província romana da Gallaecia, onde se estabelece definitivamente no ano 409, instalando a sua Corte e capital em Braga. Foi o primeiro povo que se instalou de maneira estável e já nunca mais mudou de lugar.

No ano 410 e ao pouco de se instalar na Galiza, o rei suevo Hermerico assina um pacto ou foedus com Honório, o Imperador de Roma, em virtude do qual a província romana da Gallaecia se convertia de facto num reino independente, o Reino Galego (Galliciense Regnum). Nascia assim o primeiro Reino constituído na Europa, o primeiro Estado medieval, que compreendia os territórios da Galiza histórica, o norte de Portugal (até o rio Douro) e as atuais Astúrias e Leom.

Requila, sucessor de Hermerico, governará entre 438-448, estendendo a sua jurisdiçom pola província da Lusitánia, completando um espaço político que abrange da Cantábria até Lisboa, espaço que permanece praticamente invariável até a segunda metade do s.VII, configurando os limites mais estáveis de todos os reinos europeus da altura e permitindo umha rápida síntese dos distintos carateres culturais num espaço geográfico definido, condiçom sine qua non para o nascimento dumha naçom.

Outro factor que contribuiu para a consolidaçom nacional galega aconteceu no ano 449, quando o rei Requiário decide realizar a conversom de todos os suevos ao catolicismo, religiom já praticada polos galaicos e galaicas. O relevante desta decisom é que com ela se consegue a fusom das comunidades sueva e galaico-romana; constitui-se a Naçom galega. Desde este momento, e superadas as exclusons políticas, religiosas, étnicas e rituais, os e as habitantes da Galiza identificam-se exclusivamente polo território em que habitam e convivem. Deste modo nasce também a primeira naçom europeia. No resto da Europa as discriminaçons raciais e religiosas perdurarám muito mais tempo.

No quadro da consolidaçom do reino galego, o rei Requiário ordena a cunhagem de moeda própria, sendo o primeiro rei europeu a fazê-lo. Nas cecas alude-se ao caráter galego do Reino, descartando já o conceito suevo, inequívoco sinal da aposta na unidade nacional galega.

A rápida consolidaçom do Reino Galego preocupou à velha aristocracia romana residente na Galiza, que conspirava pola volta do Império. Mas nom só, já que esse temor logo foi padecido por Roma, que optou pola via militar e a intervençom imperial, enviando um exército integrado polos seus aliados visigodos. Perto de Astorga produziu-se a batalha do rio Órbigo (456), onde os galegos fôrom vencidos e Requiário executado. Inicia-se um período de instabilidade, mas o reino nom desaparece, porque o novo rei Maldras (456-58) mantém a coesom interna e executa os conspiradores aristocratas romanos partidários do Império. Remismundo assinará a paz (465) com os visigodos em troca de aceitar a religiom ariana deles.

Ao longo do s.VI, o Galliciense Regnum vai reforçando-se no campo político e militar, conseguindo umha notável consolidaçom instituicional e um elevado nível de produçom cultural. No ano 550, o rei Carriarico, aliado com francos e bizantinos, ordena à sua Corte o retorno imediato ao catolicismo, facto que supom a ruptura com os visigodos. O sucessor Teodomiro (559-570) completa o esforço ordenando a conversom dos fieis ao arianismo que ainda ficavam. Para além disto, Corte e Igreja colaborarám prosperamente na organizaçom e consolidaçom do Reino. No documento Parrochiale Suevum estabelece-se a divisom do País em 13 sedes, divididas em dioceses, base das actuais comarcas.

O sucessor ao trono Miro estende a sua influência nas fronteiras do Reino, mas fracassa em Sevilha (583) apoiando o príncipe visigodo católico Hermenegildo contra o pai, Leovigildo, que em 585 anexa o Reino da Galiza, apesar da tentativa de Malarico de o restabelecer.

Entre 585 e 711, a Galiza constituiu umha das províncias do Reino visigodo, mas com umha personalidade política e nacional própria. A Galiza era nessa altura um Reino distinto do visigodo, mas sob a sua coroa. De facto o Reino visigodo era concebido como a soma de três partes diferenciadas: Hispánia, Gália e a Galiza.

No ano 701, Vitiza sobe ao trono de Toledo. Foi vítima dumha sublevaçom aristocrática e deposto por Rodrigo. Mas os partidários de Vitiza nom admitem isto e chamam os árabes, que desembarcam na península Ibérica em 711, acabando com o Reino visigodo e instaurando, com o apoio vitizano, o reino Hispánico de Córdoba. O Reino da Galiza nom foi ocupado, possivelmente porque os galegos foram partidários da causa vitizana e aliados dos árabes contra o reino visigodo de Rodrigo.

Com a chegada dos árabes, a península Ibérica ficou distribuída entre dous Estados diferentes: Galiza e Espanha. De facto, durante centos de anos o Reino da Galiza subsistiu e progrediu graças às boas relaçons com os emires e califas de Córdoba.

História dumha manipulaçom histórica

O reino suevo da Galiza quase nom aparece nos livros de história e a maioria d@s galeg@s ou nom conhece a sua existência ou considera a palavra "suevo" como parte da tríade de "povos bárbaros" que alegadamente assolárom a península no fim do império romano. Mas isto nom acontece por acaso, senom que fai parte da assimilaçom e deturpaçom que padece a nossa cultura e a nossa história.

Este tratamento infringido a quase dous séculos da história da Galiza obedece, já agora, a razons ideológicas, e esta tendência foi iniciada bem cedo polo bispo de Aquae Flaviae (Chaves), Idácio, no mesmo século V. A crónica de Idácio é a primeira fonte escrita de que dispomos, e como representante da aristocracia galaico-romana de grandes proprietários, risca o novo poder com a antipatia que lhe merece umha das "naçons iníquas e enfurecidas" que vinham alterar as relaçons de poder en detrimento da sua classe. Estes preconceitos interessados fôrom recolhidos pola historiografia tradicional espanhola.

Contra o relato de Idácio e as supostas "depredaçons" que teriam caracterizado a chegada dos germánicos, a arqueologia constata a continuidade das cidades e vilas e da cultura latina.

Murguia e Vicetto, melhor predispostos, também nom questionárom a fundo os alicerces destes tópicos recolhidos no Cronicom Iriense (1080) que repetia o relato de Idácio. Mais recentemente Casimiro Torres, em Galiza Sueva (1977), nom deixa de reconhecer que "o estabelecimento dos suevos na Galiza tem fundamental importáncia, quanto ao matiz diferencial, que caracterizou a futura história desta regiom", o que nom o impede de exprimir o seu antisuevismo com o relato de umha pacífica Galiza alterada pola chegada dos "bárbaros".

A tradiçom historiográfica espanhola, incluída a contemporánea, despacha os suevos com os tópicos trasmitidos desde Idácio. No entanto, na procura de um passado para legitimar um presente, que se retroalimenta mutuamente, a atençom é focada nos visigodos, a quem se reserva, como um desígnio providencial, um papel positivo na construçom de um estado espanhol unificado. Este "plano prefixado" tivo que inventar o "legitimismo visigodo" para salvar a descontinuidade do s. VIII como um dos produtos ideológicos do século XIX, em que o estado liberal espanhol construiu umha história à medida das suas necessidades, com os visigodos como protagonistas de umha anacrónica projecçom histórico-ideológica, de umha Hispánia, que nom passava de ser um conceito geográfico para os romanos, e que o reino visigodo dificilmente fijo coincidir com os seus limites pola presença sueva, a bizantina no sul da península, o serôdio assentamento do reino de Toledo, e a própria presença visigoda no sul da Gália, para além da sempre obviada posterior existência de Portugal em parte desse espaço.

O procedimento habitual para tratar o período suevo na história de "Espanha" é a ocultaçom; assim se fai com os vestígios arqueológicos e em geral a arte e a cultura, que passam a ser "visigóticos". O mesmo se passa com algumhas personagens históricas. Os cronistas Idácio e Orósio, ou Martinho de Dúmio, que passam a ser "espanhóis" ou de "Espanha", ou no máximo de "Gallaecia", mas nunca da "Galiza" ou galegos. É incómodo para esta manobra de apropriaçom e reducionismo a cunhagem de moeda no próprio s.V empregando a legenda gallica munita como identificaçom do reino suevo, superando a identidade étnica da classe dirigente germánica.

Bibliografia:

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- Nogueira, Camilo: " Sobre as orixes da cuestión nacional galega e a creación do estado portugués. A Trabe de Ouro 25 e 26, Vigo 1996.

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- Reinhart, W: "Los sueldos gallecanos monedas gallegas". CEG, 2.1944

- Teixeira, X.A: "As orixes políticas do Reino de Galicia. Usurpadores e tiranos (711-910)". A Trabe de Ouro, 48 (2001)

- Teixeira, X.A: "Arredor do Regnum Christianorum dos galegos". A Trabe de Ouro, 42, (2000)

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- Vicetto, B: "Los reyes suevos de Galicia". Corunha, 1860.

- Vicetto, B: "Historia de Galicia". Ferrol, 1865-1873.

- José Manuel Barbosa Álvarez: "Atlas Histórico da Galiza e do Seu Contorno Xeográfico e Cultural" Ediçoes de Galiza, Sant Cugat del Vallès (Barcelona).


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