Foto: Reprodução/site oficial.
A edição deste ano na capital gaúcha é preparatória para o Fórum Social Mundial que acontece em agosto, em Montreal, no Canadá. Será a primeira vez que o Fórum Social será realizado em um país do primeiro mundo. A decisão foi tomada durante o evento do ano passado em Tunis, quando ativistas canadenses lançaram o nome da cidade para sediar o encontro.
O Fórum Social Temático de Porto Alegre contará com nomes de peso como os do juiz espanhol Baltasar Garzón, que decretou a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet, e sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Garzón debaterá direitos humanos e Boaventura será o responsável por abrir o Fórum de Educação Popular, que ocorre na Câmara Municipal. Também são aguardados os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Pepe Mujica, a presidente Dilma Rousseff e o sociólogo espanhol Manuel Castells, autor do livro Sociedade em Rede.
As atividades deste ano serão concentradas no Parque Farroupilha, popularmente conhecido como Redenção. Tendas e o auditório Araújo Viana recebem as principais mesas de debates. Câmara Municipal, Assembleia Legislativa e Universidade Federal do Rio Grande do Sul também vão sediar algumas atividades.
O pontapé inicial dos trabalhos começa na tarde desta terça, com a tradicional passeata de abertura do evento. A concentração começa às 15h, no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Municipal, no centro da cidade.
Segundo Salete Valesan, do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, no encontro de Porto Alegre os ativistas vão fazer um balanço sobre os 15 anos do Fórum. “Vamos fazer uma análise conjuntural e uma avaliação sobre o futuro do Fórum. O Fórum Social Mundial nasceu como uma contraposição a Davos (Fórum Mundial Econômico, que ocorre anualmente na Suíça). Reúne movimentos e organizações sociais para debater propostas alternativas e inovadoras para mudar o sistema econômico, político e social vigentes. Esse é o principal objetivo”, explica.
Clique aqui para conferir as atividades que vão acontecer durante o Fórum Social Temático, que termina no sábado com a assembleia dos movimentos sociais.
Israel ataca mais uma vez
Uma nota divulgada na tarde desta sexta, 15, pelas organizações que participam do Fórum Social Temático, critica a atitude de Israel, que impede a vinda de palestinos para o evento de Porto Alegre. O pesquisador e coordenador do Centro Alternatives na Cisjordânia, Ahmad Jaradat, que vive em Hebron, e o diretor do Centro de Criatividade e professor na Palestina, Refat Sabbat, são alguns dos nomes que estão impedidos de participar dos debates em Porto Alegre.
Israel ocupa militarmente a Palestina desde 1948. De lá até hoje, tem imposto um regime de terror contra a população palestina, com ataques e genocídios, como os verificados recentemente à Faixa de Gaza. Desde 2015, Israel também intensificou os ataques contra os moradores da cidade de Hebron, cotidianamente vilipendiados por colonos judeus e forças militares israelenses com humilhações, violência e assassinatos principalmente de jovens e adolescentes. O objetivo do governo israelense é banir da Palestina todos os palestinos, para criar no local um estado sionista formado só por judeus.
“É com indignação e grande preocupação que as organizações que promovem o Fórum Social Temático FSM 15 Anos, em Porto Alegre, são obrigadas a informar que palestinos convidados para o encontro foram impedidos de viajar ao Brasil, barrados pelo violento fechamento da cidade de Hebron, na Cisjordânia, e agravamento da repressão em toda Palestina ocupada pelas forças israelenses”, ressalta trecho da nota.
Os ativistas cobram ainda o posicionamento das autoridades, para tentar reverter o cerceamento à liberdade dos palestinos. “Denunciamos e cobramos todos os esforços da comunidade internacional, em particular das autoridades brasileiras, para que se posicione pelo fim imediato da ocupação da Palestina, pela retirada das forças ostensivas da cidade de Hebron, pelo socorro imediato às vítimas da repressão, pela reconstrução da Palestina livre”, diz outro trecho do documento.
Leia a seguir a íntegra da nota divulgada.
“Nota de repúdio – Palestinos impedidos de viajar ao Brasil
É com indignação e grande preocupação que as organizações que promovem o Fórum Social Temático FSM 15 Anos, em Porto Alegre, são obrigadas a informar que palestinos convidados para o encontro foram impedidos de viajar ao Brasil, barrados pelo violento fechamento da cidade de Hebron, na Cisjordânia, e agravamento da repressão em toda Palestina ocupada pelas forças israelenses.
Desde outubro de 2015, recebemos notícias do bloqueio, cerco militar, controle, cadastramento forçado, humilhação, violência e seguidos assassinatos, principalmente de jovens e adolescentes, na histórica cidade palestina de Hebron e a transformação de áreas importantes para a população local, como Tel Rumeida and Shuhada Street, em zonas militares fechadas, sem que as mesmas restrições ocorram para os colonos israelenses, que circulam livremente.
Os palestinos denunciam a imposição de “punição coletiva”, por Israel, à população de Hebron, como forma de levá-la à exaustão para que habitantes abandonem a cidade onde os assentamentos ilegais israelenses avançam com violência extrema.
Nas áreas visadas no atual processo de isolamento, foram erguidos bloqueios de sucata, tijolos, cimento, tanques e homens armados que ameaçam e atacam moradores e radicalizam um cerco de terror que tem origens no massacre da Mesquita de Ibrahimi de 1994. Em fevereiro daquele ano, um colono vindo do Brooklin entrou na mesquita durante o Ramadan e abriu fogo matando 29 e ferindo dezenas, até ser contido e morto pela população. Em resposta, nos dias que se seguiram, as forças israelenses atacaram e mataram dezenas de civis palestinos que protestavam contra o massacre na mesquita.
Punições coletivas, um crime tipificado pelas convenções internacionais, são empregadas com frequência pelo Estado de Israel. Enquanto o governo e as instituições israelenses convidam parlamentares, artistas e figuras de visibilidade no exterior para visitas e conferências em suas universidades, para transmitir uma imagem de normalidade nas relações da ocupação, jovens feridos por seus soldados são deixados a sangrar nas ruas, sem permissão de acesso do socorro médico. Observadores internacionais são impedidos de entrar para testemunhar o massacre, rádios palestinas são fechadas para não emitir pedidos de socorro, e ativistas são impedidos de prestar assistência.
Integrantes do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e da Frente em Defesa do Povo Palestino no Brasil participaram, no ano passado, de uma Missão Humanitária à Palestina, mas dois brasileiros de sobrenome árabe não puderam entrar, e todos os(as) demais tiveram acesso negado à Faixa de Gaza, massacrada no ano anterior até a destruição total de sua infraestrutura. Testemunharam, no entanto, as condições intoleráveis da vida na Cisjordânia ocupada, o avanço dos assentamentos ilegais, o controle ostensivo da cidade de Hebron, a resistência incansável do povo palestino.
Denunciamos e cobramos todos os esforços da comunidade internacional, em particular das autoridades brasileiras, para que se posicione pelo fim imediato da ocupação da Palestina, pela retirada das forças ostensivas da cidade de Hebron, pelo socorro imediato às vítimas da repressão, pela reconstrução da Palestina livre.
Reafirmamos nossa firme adesão à campanha BDS, de Boicote Desinvestimento e Sanção a Israel até que a ocupação tenha fim, e manifestamos nossa firme solidariedade ao povo palestino, aos integrantes do Conselho Internacional e do processo FSM isolados em Hebron, ao pesquisador e coordenador do Centro Alternatives na Cisjordância, Ahmad Jaradat, e ao diretor do Centro de Criatividade do Professor na Palestina, Refat Sabbat, e a todos os representantes das organizações da sociedade civil Palestina que repetidamente tem sido impedidos de viajar para relatar ao mundo a realidade da ocupação.
Até que a Palestina seja livre!
Organizações participantes do Fórum Social Temático FSM 15 Anos, Porto Alegre, 15 de Janeiro de 2016”