Mais de 100 escolas podem ser fechadas no estado de São Paulo. Foto: Iris Toloni/Diário Liberdade
A Administração de Geraldo Alckmin (PSDB) quer escolas com apenas um ciclo (Ensino Fundamental I, Ensino Fudamental II ou Ensino Médio) a partir de 2016. Isso fará com que um milhão de alunos sejam transferidos de suas escolas, para outra que se adeque ao seu ciclo.
A Secretaria da Educação argumenta que o projeto tem como objetivo melhorar a qualidade do ensino e do ambiente escolar. Mas professores e alunos discordam dessa afirmação, denunciando que trata-se de mais uma estratégia do governo Alckmin de destruir a educação pública estadual.
“Essa reorganização é totalmente papo furado. Ela é na verdade uma série de cortes aplicados em várias escolas públicas”, declara Matheus, aluno do 3º ano do Ensino Médio. Ele estuda na capital, mas mora em Santo André, região metropolitana, onde afirma que seis escolas irão fechar por causa da reorganização.
Segundo levantamento parcial da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), 162 escolas serão fechadas em todo o estado. Diante do fechamento das unidades, é seriamente cogitada a demissão de professores.
Além disso, muitos professores também serão transferidos de escola, também de acordo com o ciclo em que ministram aulas.
A aplicação dessa política “está mexendo diretamente com a vida dos professores da rede estadual”, afirma Jussara Carnevari, professora da rede municipal que se solidariza com os professores estaduais. Para ela, os professores municipais devem apoiar a luta, porque é “uma luta dos estudantes, dos professores e da própria comunidade, já que está prejudicando a vida de todos”.
Outro ponto que prejudica a qualidade do ensino é a superlotação das salas de aula. Na rede pública estadual, este ano já foram registrados casos de até 100 alunos em uma única turma. Um dos objetivos da reorganização é respeitar as metas de um limite máximo de alunos por sala de aula. No ensino médio, em que o limite é maior, o ideal é ter no máximo 40 alunos por turma, segundo o governo.
O processo de reorganização do ensino público estadual é baseado em um estudo da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de dados) que mostra uma redução de 1,3% ao ano da população em idade escolar no estado.
Cátia de Mendonça Faria, professora do colégio Fernão Dias, dá aula para uma média de 40 alunos por turma, o que já dificulta o ensino por serem muitos alunos na mesma sala. A tendência, explica, é a de superlotação.
“O número de alunos não está diminuindo, mas o contrário. Como este colégio tem um certo prestígio, há inclusive uma demanda que não consegue ser atendida”, afirma. Segundo ela, existem turmas em sua escola com até 45 alunos. “Talvez a realidade seja ainda bem pior em outras escolas”, diz.
Matheus, que estuda ao lado de outros 40 alunos em sua turma, levanta o questionamento sobre a viabilidade de realocação de estudantes em outras unidades de ensino. “Como vão colocar um milhão de alunos em outras escolas? Na realidade, isso é um corte velado chamado de 'reorganização'.”
Segundo Jussara, o governo estadual está “sucateando a educação de uma tal forma que a gente tem que parar e lutar”.
E é o que está acontecendo desde o anúncio da reestruturação escolar. Manifestações estão sendo organizadas quase que diariamente em diversas cidades de todo o estado de São Paulo, e também em várias regiões da capital.
Uma delas foi na última quinta-feira (15), Dia do Professor, em que cerca de mil estudantes com apoio dos professores realizaram uma marcha até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, que teve cobertura do Diário Liberdade.
Outra manifestação está programada para a próxima terça-feira (20), em frente à Secretaria Estadual da Educação, na Praça da República. O ato deve reunir professores e estudantes para exigir o fim do plano de reorganização do ensino público proposto pelo governo Alckmin.