O mais sintomático é que o escândalo envolvendo o tucanato venha à tona via investigação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em que a multinacional alemã Siemens aparece como denunciante em acordo de leniência, uma espécie de delação premiada em troca de não ser processada. Longe de apenas expressar uma disputa entre grandes empresas imperialistas que vieram à tona, os detalhes demonstram que o alvo das denúncias foi envolver o conjunto dos governos do PSDB. Óbvio que o PT vai tentar tirar dividendos dos fatos revelados, mas no geral fica a impressão de que é necessário romper a polaridade PT versus PSDB, ambos mergulhados no mar de lama de corrupção. Os contratos fraudulentos tiveram sobrepreço de 30% do valor para cobrirem propinas para executivos das empresas, diretores do Metrô e da CPTM e políticos do PSDB. Segundo a Isto É e a Folha, entre os "contratos em que o Cade detectou flagrante sobrepreço está o de fornecimento e instalação de sistemas para transporte sobre trilhos da fase 1 da Linha 5 Lilás do metrô paulista. A licitação foi vencida pelo consórcio Sistrem, formado pela empresa francesa Alstom, pela alemã Siemens juntamente com a ADtranz (da canadense Bombardier) e a espanhola CAF". A Folha conta que a multinacional entregou às autoridades brasileiras documentos nos quais diz que o governo do PSDB em São Paulo soube e autorizou a formação de cartel para licitações de obras do metrô no Estado. A Siemens delatou no mês passado a existência do esquema, do qual fazia parte. A empresa afirma que o cartel para a linha 5 do metrô de São Paulo começou em 2000, na gestão de Mario Covas. O Cade, que investiga o caso, afirma que o conluio continuou no governo de Geraldo Alckmin (2001-2006) e no primeiro ano do governo de José Serra (2007), ou seja, em uma tacada só desgasta o PSDB e atinge Serra que vinha ensaiando ser novamente candidato a presidente.
Como já advertimos, a mídia "murdochiana" quando coloca a nu estes escândalos tem objetivos precisos e em nada está preocupada com a chamada "moralidade pública" que tanto insuflou para desgastar o governo do PT nos protestos de junho. Não temos dúvida que o PIG está se voltando para a candidatura de Marina, assim como os banqueiros dirigidos pelo clã Setubal. Esses setores da classe dominante já deixaram clara sua avaliação de que a candidatura de Aécio é fadada ao fracasso e que o PSDB está profundamente desgastado, não capitalizando a crise do governo da frente popular. Dia 14 de agosto o MPL convocou uma manifestação contra Alckmin e o escândalo do Metrô, vejamos como o PIG vai cobrir estes protestos, mas desde já não temos dúvidas que fritará o tucanato como parte da operação midiática para catapultar ainda mais Marina como a candidata que pode bater Dilma. Não por acaso, há poucos dias Marina deu entrevista à revista Exame, na qual menciona que entre os economistas que ela vem se encontrando para formular sua plataforma de campanha está André Lara Resende, um dos pais do "Plano Real". Na mesma matéria ela afirmou: "Quem viveu os tempos da inflação sabe que esse é um assunto que deve ser levado a sério, nenhum governo pode descuidar ou deixar que sua ansiedade por resultados de curto prazo afrouxem a vigilância. Mas, hoje, talvez a queda de popularidade esteja preocupando mais a presidente e o PT do que deveria. Há uma pauta de problemas e uma agenda de mudanças e reformas estruturais que o governo deve enfrentar. Não se pode governar com os olhos fixos nas próximas eleições. O governo ficou refém de suas promessas de crescimento econômico e insistiu em estratégias de crédito e desonerações que têm limites e, se usadas indiscriminadamente, geram sinais contraditórios e descompasso, por exemplo, entre política fiscal e monetária. Baixo crescimento com alta inflação é um cenário ruim para qualquer economia", ou seja, o mesmo discurso do tucanato vindo da boca da eco-capitalista! Sintonizado com este processo o próprio FHC insta a oposição a se unificar nos ataques a Dilma, sinalizando uma aliança para o segundo turno: "Se as oposições pretenderem sobreviver ao cataclismo, a hora é agora. O Brasil quer e precisa mudar. Chegou o momento de as vozes oposicionistas se comprometerem com um novo estilo de política e de assim procederem. Escutando e interpretando o significado do protesto popular"(O Estado de S.Paulo, 04/08).
O fato de a burguesia estar buscando novas alternativas políticas ao governo do PT demonstra que estamos diante de uma etapa de reorientação no interior da classe dominante quanto à disputa em 2014. Sob a maquiagem da defesa da ecologia e de uma "nova política" setores da burguesia ianque pretendem utilizar Marina para estreitar os vínculos econômicos de dependência do país à economia norte-americana, descontentes com uma relativa guinada que os governos da frente popular operaram em relação a China e seu cinturão de relações comerciais. O Brasil tem hoje nos BRICs sua principal corrente de transações econômicas, incluindo exportações de commodities para a Ásia e investimentos diretos no país, fato que tem irritado a Casa Branca. Marina tem recebido uma forte logística do imperialismo para se postular como uma alternativa de poder aos governos do PT, ainda mais reforçada com a falência precoce da oposição demo-tucana sem nenhuma chance eleitoral para 2014, realidade que só se aprofunda com os escândalos do Metrô. Não foi pela "defesa da floresta da Amazônia" que Marina foi o destaque político da abertura das olimpíadas de Londres em 2012 e tampouco é a "luta ecológica" o móvel do pesado financiamento internacional recebido pelo "Rede". O escândalo do Metrô vai fortalecer em muito esta tendência, com o PIG forçando tudo para levar a disputa das eleições presidenciais para o segundo turno com o objetivo de depois unificar o conjunto da oposição burguesa em torno de Marina.