Investigações preliminares dão conta de que a água utilizada para consumo pelos moradores da região estaria contaminada pelo "agente laranja" 2,4 D (2,4-Diclorofenoxiacético), um agrotóxico altamente nocivo para a saúde humana.
Conforme relatos das vítimas, após consumirem a água, os moradores sentiram falta de ar, sensação de sufocamento, feridas, coceiras, dor de cabeça, náuseas, vômitos, diarréia e até desmaios.
Entre as pessoas contaminadas, está um bebê com 40 dias e um menino de 6 anos. Segundo os atingidos, a água da nascente e do riacho ficaram esbranquiçadas como se estivessem com excesso de cloro, só que com um cheiro forte e insuportável.
Alexandra Bastos, médica responsável pelos atendimentos, afirma que os sintomas apresentados não indicam intoxicação pelo ar, o que corrobora com a tese da água contaminada.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul apreendeu o trator e o pulverizador utilizados na aplicação do produto para análise.
Os pacientes seguem em observação aguardando os resultados dos exames de sangue para comprovação da intoxicação.
Debate
O deputado estadual Edegar Pretto (PT-RS) acompanha o caso, e diz que uma contaminação causada pela água pode ter graves conseqüências à saúde da população da região.
Para ele, o uso desse tipo de agrotóxico é inaceitável, sendo preciso legislações mais severas que sejam capazes de punir os responsáveis.
"O uso dos agrotóxicos só traz malefícios à saúde humana. O veneno mata a biodiversidade, mata os nutrientes e empobrece o solo. No Brasil, a cada ano, 500 mil pessoas são acometidas por câncer, grande parte originária dos venenos dos alimentos", relata.
Para Pretto, é preciso leis capazes de punir severamente os responsáveis e acabar com o fim da cultura dos agrotóxicos na agricultura brasileira.
Na última semana, o deputado protocolou na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul dois projetos de lei para impedir o uso abusivo de agrotóxicos no estado.
Um proíbe a pulverização aérea de lavouras em todo o território gaúcho. O outro proíbe a fabricação, comercialização e uso de produtos que contenham em sua fórmula a substância 2,4-D.
Para ele, sem a pressão popular pouca coisa será feita pelo novo Congresso Nacional que assume o poder em 2015.
"Os projetos foram protocolados, mas, devido ao final do ano, os tramites serão arrastados. A votação desses pedidos depende da pressão das ruas, do povo e dos movimentos sociais. Caso contrário, com a bancada ruralista eleita recentemente, pouco ou nada será feito para barrarmos o uso dos agrotóxicos".
País de origem
O deputado também falou sobre as duas recentes decisões liminares concedidas pelo Tribunal de Justiça gaúcho à indústria do agronegócio.
Conforme estabelece a Lei 7.747/82, só deveriam ser admitidos no Rio Grande do Sul a distribuição e comercialização de agrotóxicos e biocidas já registrados no órgão federal competente, e caso os produtos sejam importados, eles devem ter uso autorizado no seu país de origem.
Essa decisão foi derrubada pelo TJ que autorizou o uso e a comercialização dos pesticidas fabricados pelas empresas Helm e Syngenta, duas das maiores empresas de agrotóxicos do mundo.
"O Rio Grande do Sul é o único estado do país em que temos essa legislação, não podemos permitir que esse tipo de concessão aconteça. Nosso papel é fortalecer a agricultura familiar. Os interesses econômicos de poucos não podem predominar sobre os interesses da maioria da população", acredita.
Segundo o TJ, a Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente (Fepam) não teria competência legal para impedir a comercialização de produtos liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por isso a liberação foi concedida.