Foto: bomba explode no Rio de Janeiro no último dia 06/02; cinegrafista é ferido no momento.
Sobre os acontecimentos que se precipitaram a partir da última quinta-feira, 6 de fevereiro, data do ato contra o aumento das passagens no Rio de Janeiro, AND, como imprensa popular e democrática, se coloca algumas questões e reflexões que julga necessárias a esse debate.
Manifestamos nosso repúdio à maneira como o monopólio da imprensa tem tratado o episódio, intensificando enormemente a campanha de criminalização do movimento popular, demonstrando o desespero das classes dominantes para aplacar as jornadas de luta iniciadas em junho de 2013 e que se anunciam agigantadas para 2014.
A morte de Santiago é algo há muito aguardado pelas classes dominantes, seus serviçais na gerência do velho Estado e o monopólio dos meios de comunicação e foi a senha para desatar por todos os meios a mais odiosa campanha contra o povo em luta. Imediatamente após o incidente, um verdadeiro bombardeio de declarações, desmentidos, mudanças de versão, etc, entulharam televisões, rádios, jornais e internet com debate sobre a autoria do disparo.
Nenhuma palavra foi dita, pelo monopólio da imprensa ou pelas "autoridades", sobre o ato criminoso da PM do Rio, ao iniciar um tumulto dentro da Central do Brasil, onde se aglomeravam milhares de pessoas, entre manifestantes e trabalhadores que voltavam para suas casas após o dia de serviço, mas que apoiavam o protesto. Nem mesmo sobre o absurdo do reajuste do preço das passagens, ou sobre outros feridos pela polícia no protesto. Nada disso mais interessava, apenas o disparo que vitimou Santiago e a sanha pelo linchamento do autor do disparo junto com todos que ousam protestar no Brasil.
A profusão de imagens indicava que o disparo teria partido dos manifestantes e essa versão foi se consolidando até que um jovem se entregou à polícia dizendo ter repassado o artefato a um outro jovem, que o teria disparado e, é claro, eles dois passaram a ser os 'maiores criminosos da história da humanidade'.
Esse mesmo monopólio dos meios de comunicação, porta-voz das classes dominantes do Brasil, que se refestela com milhões do dinheiro público, sonegação e outros tipos de crimes, não dedicou nem um quinto do espaço aos casos de jornalistas covardemente atacados pela polícia nos protestos de 2013. Casos como do fotógrafo Yasuyoshi Chiba, espancado no Rio em julho; ou de Giuliana Vallone, repórter da Folha, atingida por uma bala de borracha no olho em junho; ou o fotógrafo Sérgio Silva, que ficou cego após também receber uma bala de borracha no olho. Nem mesmo esses casos que vitimaram empregados do próprio monopólio da imprensa ganharam uma campanha insana em busca do culpado em qualquer das polícias genocidas do Brasil. Estima-se que mais de 110 jornalistas foram agredidos em manifestações desde junho, a imensa maioria por parte da polícia.
O mesmo se passou com o repórter de AND, Patrick Granja, atingido por uma bomba de efeito moral, cuja explosão dilacerou sua panturrilha. Alguma palavra da Globo ou congêneres? Alguma busca pelo culpado? Igualmente com Amarildo, assassinado na Rocinha por policiais da UPP. Há alguma pauta no monopólio exigindo o aparecimento de seu corpo?
Notadamente a facção dominante do monopólio dos meios de comunicação, a Globo, se esforça muitíssimo nessa tentativa de criminalizar os protestos, entre outras razões porque é escorraçada das manifestações desde que a primeira ocorreu em junho, o que eleva seu ódio ao povo à décima potência.
Em última instância, o culpado pela morte de Santiago é o próprio monopólio dos meios de comunicação em geral e seus patrões da Band principalmente, já que colocaram um profissional para trabalhar em um combate entre polícia e manifestantes sem a mais mínima proteção.
Por fim, o jornal A Nova Democracia repudia essa cobertura orquestrada, o que evidencia seu caráter de monopólio, da chamada "grande mídia", que teme mais que tudo sua perda de influência, principalmente entre os jovens, que agora mais que nunca passarão a ser tachados de "terroristas", algo que vem muito a calhar para os planos dessa gente que deseja apenas assegurar seus lucros e benesses. Nada há que esperar de positivo para o povo do velho Estado ou do monopólio da imprensa.