Por outro lado, muitos que costumavam esquecê-lo, fizeram o caminho inverso, buscando, nos últimos dias, atacá-lo.
O inegável em tudo isso é que não se tratava de uma figura inofensiva. Embora com uma idade já bem avançada, sua insistência em defender o comunismo jamais foi aceita pela elite autocrática deste país, incapaz até mesmo de aceitar que um dos melhores filhos de sua pátria, um artista sem par – cheio de pequenos defeitos como qualquer ser humano –, possa ter ideias próprias e defendê-las "a muerte", como se diz em Cuba.
Muitos o fizeram buscando mostrar dele uma figura ambígua e contraditória, que só falava de comunismo da boca pra fora, mas que gostava mesmo é de projetar grandes centros de poder para o Estado burguês.
A figura de Niemeyer velhinho acabou se tornando útil para a grande mídia, que aproveitou para associar suas convicções à sua idade, querendo dizer que aquilo é coisa do passado. O que não imaginam é o quanto Niemeyer foi capaz de irradiar seu ideário, e o quanto o fato de ele ter se mantido comunista até o fim segue empolgando jovens do Brasil inteiro, admiradores de suas obras e de seu caráter, sejam eles ligados ou não à arquitetura. Aliás, em matéria de arquitetos, no Brasil, quase todos os mais importantes foram ou são comunistas: Lelé, Artigas, Lina Bo Bardi, Sérgio Ferro e tantos outros, muitos deles dizem abertamente que devem suas convicções em grande medida à Niemeyer. É o caso de Lelé, agora talvez o arquiteto brasileiro vivo mais importante e admirado pelos jovens interessados pelo tema¹.
Niemeyer foi uma figura que jamais o povo brasileiro apagará de sua memória. Arquiteto genial, já em 1936 impressionou todo o mundo com seus esboços para o Ministério da Educação no centro do Rio de Janeiro. Hoje o prédio está lá, com os azulejos de Portinari (companheiro de ideologia e de arte de Niemeyer), e segue encantando milhares. Formado na Escola Nacional de Belas Artes, via na arquitetura uma expressão artística, mas, devido a forte contradição com os limites que o capitalismo impõe à arquitetura – causa principal das contradições da construção de seus edifícios em Brasília –, não se contentava com aquilo. Por mais encantadora que possa ser sua arte, sua humildade não o permitia admitir mais do que a afirmação de que no "dia em que a vida for mais humana, mais solidária, aí sim os prédios vão ter um feitio diferente".
Participou como militante do PCB de lutas no movimento de massas. Como professor da UnB esteve presente nas lutas da década de 60 pela democratização e popularização da universidade brasileira, razão também pela qual seria cassado e exilado, junto com o título de comunista. Foi também amigo pessoal e colaborador de Luiz Carlos Prestes. Com desprendimento louvável, quando Prestes voltava do exílio cedeu um escritório para que servisse de espaço para os trabalhos do líder comunista. Ainda como militante do PCB, Niemeyer lutou na década de 80 contra a degeneração política e ideológica do seu Partido.
Niemeyer lutou até o fim. Exatamente como um guerreiro que morre no campo de batalhas: se, mesmo vivendo 105 anos (completaria 105 dentro de 10 dias), não pôde vivenciar no Brasil uma luta revolucionária que fosse às últimas consequências, guerreou no campo de batalha ideológico incansavelmente. É certo que a homenagem mais justa que podemos fazer a essa grandiosa figura humana é a de nos comprometermos intransigentemente com a luta e a vitória popular. Niemeyer nos deixou a prova de que os sonhos não envelhecem. Com mais de um século de vida, era o mais jovem dos brasileiros.
Camarada Niemeyer, presente!
Corrente Comunista Luiz Carlos Prestes (CCLCP)
Juventude Comunista Avançando (JCA)
¹ Em seu livro de 2004 (O que é ser arquiteto), Lelé afirmou: "Sinto-me comunista até hoje, acho que com o capitalismo a gente não vai se desenvolver mais. Posso ter revisto algumas posições, mas continuo achando que o homem só pode ser feliz através do socialismo" (p. 104).