Falamos com a associaçom de familiares e amig@s dos presos e presas independentistas galegas Que Voltem Para a Casa!, entidade organizadora desta iniciativa solidária, e isto foi o que nos contárom.
Diário Liberdade - Para quem nom conheça, explicai-nos em que consiste a Marcha às Cadeias que anualmente organiza a vossa plataforma Que Voltem para a Casa! e qual o objetivo que perseguides com ela.
Que voltem à casa! - Bom, o primeiro que queríamos é apontar que ainda que esta tenha sido a nona ediçom da Marcha às Cadeias, os sete primeiros anos a Marcha foi organizada polo Organismo Popular Anti-repressivo Ceivar. Este é o 2º ano que organizamos de Que Voltem Para a Casa!
Os objetivos que perseguimos som vários:
• Levar às presas independentistas galegas todo o nosso carinho, apoio, calor e solidariedade: que nos escuitem, que saibam que estamos aí, que cada ano somos mais, que nom vamos esquecer-nos delas, e que nom vamos parar até as trazermos de volta para a casa. É também um ato simbólico, através do qual levamos umha maré de solidariedade lá onde tratam de afastar as nossas companheiras, quebrando assim com o significado da dispersom.
• É um ato de denúncia da situaçom em que se encontram: as medidas de excecionalidade que sistematicamente se lhes aplicam desde o mesmo momento em que som detidas, vulnerando os seus direitos fundamentais e impossibilitando o exercício do direito a umha defesa efetiva. Também denunciamos as precárias condiçons de vida e o tratamento arbitrário do que som objeto as nossas companheiras dentro das prisons.
• A marcha serve para denunciar a dispersom penitenciária, e exigir que se respeite o direito das nossas amigas e familiares a voltarem à sua terra; também para experimentar em primeira pessoa o que significa a sua aplicaçom, e tratar de imaginar o que pode supor ter que deslocar-se cada fim de semana para poder dar um abraço a umha filha, ou poder intercambiar umhas palavras com umha amiga.
O que significa, entom, essa situaçom de dispersom em que se encontram as presas e presos independentistas galegos?
O primeiro que significa é que o Estado espanhol está a violar a sua própria legislaçom. Aplicar a dispersom penitenciária implica o incumprimento da Lei Orgánica Geral Penitenciária, que estabelece que o centro penitenciário no qual cumprir condena deveria ser o mais próximo possível do domicilio da pessoa presa, com o objetivo de evitar o seu desarraigo social.
Também é umha extensom da condena à família e amizades das pessoas presas, que assumem um enorme custo de tempo e económico, além do desgaste físico e emocional que implica, e o risco nas estradas cada fim de semana.
Na noite da passada sexta-feira dia 16, partiam de diferentes pontos da Galiza as três colunas que constituíam a Marcha às Cadeias. Como decorreu esta nova ediçom?
A 9ª ediçom da Marcha às Cadeias foi um rotundo êxito. Desde o nível de implicaçom com o que contou a campanha por parte de distintas pessoas, coletivos, centros sociais e outros locais que organizarom a Caravana da Liberdade, grupos de música, organizaçons políticas e sociais... até a assistência à própria Marcha. As três colunas conseguírom chegar aos pontos de destino sem maiores incidências que o frio, o gelo e a neve nas estradas, e umha vez ali as três conseguirom ser escuitadas: no caso das Colunas Norte (Antom) e Centro (Edu) por presos bascos que já sabemos que transmitírom as respetivas mensagens, e no caso da Coluna sul polo próprio Teto. Depois juntamo-nos todas em Mansilla de las Mulas, onde estám Raul e Maria, e esse foi o momento mais emocionante da Marcha: o facto de ver três autocarros cheios de gente solidária que quer transmitir o seu carinho e apoio às presas independentistas galegas, e ter podido contatar com ela, vê-la, escuitá-la e que ela nos visse e nos escuitasse... essa sensaçom fijo com que nos esquecêssemos dos quilómetros percorridos, do frio, e do cansaço acumulado... e que nos sentíssemos fortes, e com mais vontade que nunca de continuarmos a trabalhar para conseguir o nosso objetivo.
Entendemos que preparar este tipo de iniciativa precisa de um grande labor logístico prévio: colunas, horários, percursos... Como se organiza, entom, a Marcha às Cadeias?
Pois sobretodo com muita vontade! (risos). A sério, há que dedicar muito tempo e ter muitas cousas em conta, mas sempre é um trabalho reconfortante, porque encontras gente que tem muito que contribuir e muita vontade de o fazer, e também serve para dar-te conta de que, apesar das adversidades, o povo galego é um povo que luita, que sabe defender o seu.
Este ano mesmo realizastes umha campanha de angariaçom de fundos, junto com o grupo Dakidarría, na que conseguistes reunir mais de 3.000€. Em que consistiu a campanha e como se aproveitará o dinheiro obtido?
O arrecadado tanto na venda de material solidário (bonos, calendários), assim como umha parte do obtido no crowfunding (que fôrom 3.800€), já foi destinado a pagar os gastos da marcha, para pagar os autocarros que deslocárom as solidárias. O resto irá para a reediçom do trabalho de Dakidarria 'Utopías Emerxentes', que posteriormente doará os benefícios da sua venda a organizaçons que luitam polos direitos das pessoas detidas, presas ou retaliadas na Galiza; também para fazer material solidário com o qual afrontar um duro ano, mas convencidas de que vamos conseguir o nosso objetivo de seguir colaborando todo o que podamos a paliar a sangria económica que supom a dispersom penitenciária.
Também muitas pessoas e entidades do tecido político e social do País mostrárom publicamente o seu apoio a esta ediçom da Marcha, e mesmo o BNG se posicionou contra a dispersom e defendeu os direitos das pessoas presas. Qual é a vossa leitura sobre a implicaçom de cada vez mais setores da sociedade galega?
De Que Voltem Para a Casa! consideramos que qualquer pessoa com uns mínimos de humanidade deve estar contra a dispersom, que significa defender os Direitos Humanos; o que nós pedimos é que o Estado espanhol cumpra a sua própria legislaçom e também a legislaçom internacional vigente e as recomendaçons dos Organismos de Direitos Humanos das Naçons Unidas.
O posicionamento do Bloque Nacionalista Galego vemo-lo com satisfaçom, como um apoio ao nosso trabalho e ao de muita gente: na medida que sejamos capazes de chegar a mais gente continuaremos somando apoios. A dispersom é cruel, desumana e ilegal; os Direitos Humanos nom podem ser negociáveis, e defendê-los é labor de todas, por cima de ideologias ou estratégias políticas.
Outra questom a ter em conta é a repressom que tam habitualmente exercem os corpos policiais espanhóis sobre os movimentos solidários. Encontrastes algum impedimento por parte das autoridades espanholas durante a Marcha?
Este ano a Marcha decorreu com relativa tranquilidade. Excetuando o facto de que nalguns casos nom nos deixassem rodear o perímetro penitenciário, ou que as que participamos na Coluna Sul fomos todas identificadas pola polícia, nom aconteceu nada mais destacável.
Por outra parte, o preso independentista Raul Agulheiro nom se encontrava na prisom de Soto del Real (Leom), pois tinha sido deslocado a Madrid para ouvir o auto dos delitos que lhe som imputados. Aliás, María Osorio foi também foi deslocada de cela em dias anteriores à Marcha. Que interpretaçom fazedes disso? Foi "simples acaso"?
Acasos com Instituiçons Penitenciárias há poucas. Tínhamos constância de que ia ser deslocado por esse motivo, mas que se figesse justo nesta data...
Tampouco foi casual a mudança de cela da Maria a umha mais afastada do exterior, ainda que pudemos chegar a contatar com ela na mesma.
Precisamente Raul Agulheiro dizia numha recente entrevista realizada por CEIVAR que "o Povo tem que compreender que a repressom existe e que estamos a ser julgadas/os polas nossas ideias políticas". Que diríades a aquelas pessoas que ainda se mostram céticas ante esta situaçom?
Pois simplesmente que a justiça comparativa deixa em evidência a realidade: só há que comparar as condenas das nossas companheiras com as penas aplicadas a pessoas acusadas doutros delitos como assassinatos, violaçons, desfalque público...
Ou o que se pudo escutar no julgamento contra Antom Santos, literalmente: "lo importante de este señor no son los hechos por los que es juzgado si no lo que piensa y representa en el movimiento independentista", ou apresentar provas contra eles como a "abundante literatura revolucionária".
Às vezes tenta-se confundir com que nom existem as presas políticas no Estado espanhol, mas a realidade é que as nossas presas recebem um tratamento de excecionalidade diferente do que qualquer presa "comum", e isto só é aplicado a certos coletivos de presas. Para ir visitar umha presa, devemos realizar um mínimo de 700 quilómetros em horários muito específicos, e todas estám em isolamento.
Tampouco se pode ligar para a existência ou a pertença a umha suposta organizaçom armada, desde as presas do EG até sindicalistas como Telmo e Miguel, ou outras sem condenas por pertença a nengumha organizaçom, fôrom classificadas do mesmo modo que as atuais; tampouco importa se estám em preventiva ou cumprindo condena, desde a detençom venhem sofrer estas práticas de exceçom: aplicaçom da lei antiterrorista, isolamento, dispersom, isolamento, abuso da prisom preventiva...
Os argumentos para as medidas de exceçom como a da dispersom penitenciária caem polo seu próprio peso. Recentemente o anterior delegado do governo, Samuel Juárez, argumentava a respeito das presas galegas que a finalidade da dispersom era isolá-los do controlo que a "organizaçom" pudesse ter sobre elas; Rajoi inclusive defendeu a aplicaçom desta medida cruel recentemente, alegando que se fazia um favor às presas... no caso galego bastaria com dividi-los em módulos numha das prisons, se esse fosse o motivo verdadeiro, ou cada um num centro penitenciário distinto do País....
Tanto tem o suposto delito polo qual som julgados: o critério para decidir e aplicar a condena é a ideologia.
E aquelas pessoas que desejem mostrar a sua solidariedade, que podem fazer?
Pois é bem doado: desde escrever umha carta ou um postal às nossas presas, participar nas mobilizaçons de solidariedade, concentraçons mensais, cadeia humana, marcha às cadeias, falar e falar com as companheiras de aulas, as do trabalho ou a família sobre a situaçom das nossas presas, visitar ou acompanhar de apoio a familiares ou amigas, organizar atos de apoio ou difusom sobre as presas, nos centros sociais, liceus, faculdades... até participar economicamente, ou de forma organizativa com Que Voltem Para a Casa! ou difundir o nosso trabalho.
O importante é fazer algo, nom ficar impassível ante esta situaçom. Animamos a todas e a todos a sumar-se à nossa luita, o nosso berro tem que ser o clamor de todo um povo: 2015: ACABAR COM A DISPERSOM. TRAZÊ-LA PARA A CASA!!