No território francês, a perseguição dos supostos autores dos assassinatos de jornalistas, policiais e fregueses de um mercado "frequentado por judeus" (sic) em Paris concluiu, na tarde de hoje (horário galego), com a morte dos dois supostos irmãos que assaltaram o Charlie Hebdo e do homem armado que mantinha uma série de reféns num mercado da capital francesa.
A polícia francesa invadiu o local onde os dois irmãos (Said e Chérif Kouachi, segundo a mídia oficial) estavam cercados, na cidade de Dammartin-en-Goële, após terem fugido ontem de Paris. Em simultâneo, fardados franceses assaltaram o mercado kosher, no leste da capital, e mataram o homem que havia feito cinco reféns. Morreram quatro das pessoas retidas e o próprio sequestrador.
A resolução das numerosas incógnitas sobre a estranha sucessão de ações armadas na capital gala nas últimas 48 horas fica mais difícil de se conseguir, uma vez que a polícia matou todos os supostos participantes diretos nos tiroteios, aos quais se atribui militância em grupos armados integristas, quer da Al Qaida, quer do Estado Islâmico.
Entretanto, saltam contradições, como a aparentemente falsa execução de um polícia, no chão, durante a ação contra o jornal satírico parisiense. Uma análise do vídeo difundido mostra que o homem deitado no chão não é alvejado pelo disparo do fuzil segurado por um dos dois supostos assaltantes, contrariando as informações dos meios de comunicação.
Surpreende também a aparente facilidade com que os membros do comando se deslocam pelas ruas de Paris, fortemente armados, e mesmo que a continuação se produzisse um novo atentado contra uma polícia municipal primeiro, e um sequestro num mercado em seguida, que por sua vez concluiu com mais quatro mortes de pessoas mantidas como refêns.
É possível que os rombos na investigação dos fatos aumentem ou mesmo nunca cheguem a ser esclarecidos, como costuma acontecer com atentados semelhantes durante a última década em diferentes lugares (Nova Iorque, Madrid, Boston, Londres...). Porém, analistas críticos apontam para um fato evidente: as ações reforçam as políticas ultrarrepressivas no coração da Europa, em plena multicrise capitalista, aumentando o alinhamento com as propostas políticas mais extremistas do sistema, incluídos os crescentes racismo e xenofobia.
François Holland, Angela Merkel e David Cameron já confirmaram a participação na manifestação convocada para domingo em Paris. Também outros governantes "comparsas" dos principais líderes europeus, como Matteo Renzi ou Mariano Rajoi, entre outros. Nenhum deles explicou se vão continuar a financiar e dar apoio de todo o tipo aos grupos armados islamistas que lideram a oposição a governos laicos como o da Síria, isto é, grupos opositores que poderiam estar por trás da aplicação dos operativos armados em Paris, já que alguns meios apontam que os dois irmãos mortos haviam combatido na Síria contra o governo de Assad.
Todos os governos da Europa ocidental, isso sim, tal como Obama nos EUA, lançam mensagens de unidade em torno dos governos imperialistas para ganhar o apoio "unânime" às medidas legislativas e atuações político-militares que, sem dúvida, se seguirão a esses fatos ainda inexplicados...