Foto: http://www.participa2014.cat/ - Impressão dos resultados na web sobre o processo participativo de ontem, o Participa2014.
Segundo os resultados provisórios 2.236.806 pessoas votaram ontem na Catalunha em resposta à convocatória do governo autónomo, apoiada pelo conjunto de partidos políticos pela democracia (ERC, ICV e CUP, para além da governante CiU) e pela maioria social catalã. É um sucesso sem precedentes, por quanto a participação foi massiva apesar de condições muito adversas, que incluíram a proibição expressa de Madrid, e inúmeras questões formais derivadas da dita proibição que empecilharam o processo.
O corpo eleitoral era de cerca de 5.400.000 pessoas, que estavam chamadas a responderem a dupla pergunta de se querem 'que a Catalunha seja um estado?' e em caso afirmativo, se querem 'que dito estado seja independente?'. E a resposta foi contundente: a opção do duplo 'Sim' (isso é, independência total para a Catalunha) ganhou com 80,76% dos votos. 10,09% foram para a opção 'Sim-Não', a do estado próprio mas não independente, que é assimilável à opção de uma federação com o Estado espanhol. Já a opção de renunciar a um estado próprio (o qual significa continuar no status quo atual ou recentralizar o Estado espanhol) angariou apenas 4,5% dos boletins.
É verdade que a proibição de Madrid, as sabotagens do unionismo espanhol -inclusive denuncias bizarras no dia da votação, como a do partido ultranacionalista UPyD- e selvagem campanha mediática contra a consulta popular colocaram uns obstáculos que fazem com que os resultados não possam ser quantitativamente usados como expressão da vontade do Povo Catalão. No entanto, a maciça participação sim legitima (tanto internamente quanto a olhos internacionais) uma interpretação qualitativa que é clara: as teses soberanistas triunfaram e o governo espanhol deve ceder aos legitimos desejos de os e as catalãs decidirem sobre o seu futuro.
Agora, plebiscitárias ou negociação?
O sucesso da convocatória de ontem foi patente desde antes de os centros de votação abrirem as portas, com enormes filas de pessoas a esperar para votar. Por isso, desde a primeira hora do dia, o presidente da Generalitat Artur Mas (CiU) tentou capitalizar politicamente o processo e exprimir as suas intenções para o dia a seguir da massiva consulta.
Assim, de acordo com o declarado ontem pelo President, o programa do governo autónomo é agora aproveitar a força ganhada para tentar pactuar com Madrid um referendo oficial cujo resultado seja o que decida a questão. Isso não condiz as aspirações dos outros partidos pró-independência, nomeadamente ERC e CUP, que após a consulta de ontem vem o caminho despejado para dar passos face à independência, via eleições plebiscitárias. Isso condiz com a vontade expressada nas ruas por milhares após a primeira das duas proibições espanholas contra a consulta de ontem.
É cedo, em qualquer caso, para assegurar que as negociações propostas por Mas serão o plano finalmente executado, pois ao longo dos últimos anos o presidente catalão já teve que recuar (ou avançar posições, todo depende da perspetiva) perante a pressão popular disconforme com as suas vacilações.
O intento de Mas de destacar-se como protagonista deste histórico 9N (quando a realidade o caminho até cá foi inteiramente conduzido pela sociedade civil catalã, com Mas a reboque) valeu-lhe o aviso da esquerda revolucionária com presença parlamentar, a Candidatura d'Unitat Popular (CUP), quem através do seu deputado David Fernández pediu que ninguém se faga dono deste 9N que, em justiça, pertence à maioria social catalã.
Em Espanha entretanto...
O fracasso espanholista na sua 'cruzada' contra a Catalunha tem sido absoluto e mesmo se pode dizer que tem disparado contra os seus próprios interesses, convencendo os e as catalãs de que o regime espanhol é incompatível com a democracia. Por isso, se Madrid continuar na mesma linha convertiria a situação em totalmente insustentável. Adicionalmente, Mariano Rajói enfrentará a seguir inúmeros problemas internos derivados de nem ter negociado com Barcelona nem ter conseguido parar a consulta. Isso faz com que as criticas de um e outro lado estejam totalmente fundadas, e provavelmente cresçam na medida em que fique mais patente, nos próximos meses, a incapacidade do PP para deter o processo em andamento no Principado da Catalunha.
Doutro lado, a esquerda e socialdemocracia espanholas também não tiveram um comportamento exemplar. Assim, enquanto não admira que o PSOE fosse da mão do PP no extremismo anti-democrático, é interessante verificar como o autoproclamado renovador 'Podemos' preferiu instalar-se no conforto do silêncio, sem comunicados oficiais, e com posições divergentes dos seus quadros: de Villarejo a criticar o 'antidemocrático' 9N catalão, ao crítico Echenique de visita em Barcelona para apoiar a consulta.
[2014-11-09, 15:08] Massiva participação na consulta sobre a independência da Catalunha
As ameaças do governo espanhol deixam passagem a imagems de urnas cheias, filas para votar e um povo expressando-se democraticamente.
Foto de Calafellvalo (CC by-nc-nd/2.0) - Votações hoje na Catalunha.
Às 13h00 a participação era de 1.142.910 pessoas, dos cerca 5.400.000 catalães e catalãs que estão chamados a votarem em uma jornada histórioca. A participação é superior em 50.000 pessoas à que registava o Estatuto de Autonomia de 2006 às 14h00 -finalmente, o dito estatuto foi suspendido por Madrid, apesar do voto positivo de 74% do eleitorado.
O dado é ainda mais relevante tendo em conta que o processo democrático conta com a proibição explicita do Reino da Espanha, o boicote do unionismo e uma selvagem campanha mediática em contra, veiculada através dos principais meios ao serviço do projeto espanholista. Pelas 22h30 conheceremos a participação absoluta na jornada, mas os resultados sobre as respostas à dupla pergunta ('Quer que a Catalunha seja um estado? Sim/Não' e 'Em caso afirmativo, quer que dito estado seja independente? Sim/Não') chegarão provavelmente na segunda-feira (10/11).
O fracasso espanholista na sua 'cruzada' contra a Catalunha tem sido absoluto e mesmo se pode dizer que tem disparado contra os seus próprios interesses: a insistência do governo de Mariano Rajói em parar a votação tem sido a campanha perfeita pelo 'Sim' à independência, convencendo os e as catalãs de que o regime espanhol é incompatível com o palavra 'democracia'.
Carme Forcadell, presidenta da Assembleia Nacional Catalã (ANC), disse hoje que "o simples facto de todos os locais de votação terem aberto já é um sucesso". E assim é, indubitavelmente, por quanto é diametralmente oposto às ordens de Madrid. Todos e todas as representantes das entidades soberanistas catalãs condizem esse diagnóstico, e sabem que a contundente vitória de hoje abre a porta para os seguintes passos face à independência.
Emoção, festejo e normalidade neste histórico 9N
Com 1.317 centros de votação, 6.595 urnas, 6.000.000 de boletins de voto e 40.000 pessoas voluntárias assitindo na execução de um processo que dirige o governo autónomo do Principado da Catalunha (a Generalitat) a relativa calma e o extraordinário interesse mediático internacional -superior, mesmo, ao do referendo de independência escocês de faz poucas semanas- estão a ser a nota dominante.
Para além dos centros no território nacional do Principado da Catalunha (único território, por enquanto, dos Países Catalães em que o processo de emancipação nacional tem atingido a maturidade suficiente para tentar abordar a independência), catalães e catalães residentes em locais como Hong Kong, Tóquio, Sydney, Londres, Nova Iorque e, enfim, cidades um pouco por todo o mundo terão urnas disponíveis para se expressarem.
As filas às portas dos locais de votação já começaram a formar-se minutos antes destes abrirem, pelas 09h00. A emoção de uma jornada histórica fez-se sentir na multidão, com cenas emotivas como a de uma pessoa idosa cujas lágrimas ao votar é a imagem desta abertura de 9N: "Quando vi o boletim de voto pensei em todas as pessoas que sofriram para consegui-lo".
Todos os centros de votação conseguiram abrir com normalidade, inclusive em Hospitalet de Llobregat, cidade vizinha a Barcelona em que a diretora do Instituto Pedraforca tentou sabotar a votação ao negar-se a entregar as chaves do local ao voluntariado. Um centro alternativo próximo foi rapidamente habilitado, fanando os desejos da dita diretora. Por outro lado, a integridade e segurança contra o falseamento dos resultados do sistema de votação teve que ser hoje admitida mesmo pelo meio espanholista El País, contra as teses das últimas semanas de meios irmãos.
A jornada está a contar com participação de observação internacional, entre a qual a galega de BNG, Anova e Nós-UP.
O assalto a pontapés por cinco fascistas contra um centro de votação em Girona (abortado por voluntariado e votantes) e uma delirante dupla denúncia do partido madrileno direitista UPyD -quem pediu nas cortes judiciais de Barcelona o desalojo pela força dos centros de votação, a suspensão do processo e a detenção do presidente da Generalitat, Artur Mas) foram as duas componentes bizarras, presente auto-ridiculista do Espanholismo. PP, Plataforma per Catalunya, Societat Civil Catalana e Falange não quiseram desaproveitar o evento e também apresentaram diferentes medidas. Todas as medidas cautelares solicitadas foram rejeitadas polo juíz de guarda.
Precisamente o unionismo espanhol, principalmente identificado com posições ideológicas de direita organizaram para hoje pequenos atos em pontos diversos da Catalunha, cujo protagonismo e dimensão ficou em águas de bacalhau, ao lado do massivo e histórico processo democrático impulsionado pela maioria social catalã.
Problemas para o Reino de Espanha
Os problemas internos da 'Marca España' têm começado desde a abertura de portas do primeiro centro de votação. A parte direita do seu partido está já a criticar que o presidente espanhol não tomasse medidas (ainda mais) contundentes contra o processo democrático. O PP, no entanto, viu-se impossibilitado pelo custo internacional que tal teria, pois o passo seguinte seria a intervenção militar ou policial contra os milhares de voluntários e milhões de votantes de hoje.
Mas esses problemas para o Reino de Espanha são farinha de outro saco que não devem restar hoje protagonismo ao quem assina este marco histórico: o Povo Catalão.