Os sionistas israelenses empreenderam uma nova agressão em larga escala contra os palestinos da Faixa de Gaza. A imprensa burguesa, seguindo o roteiro de sempre, se apressou a justificar a ação e a culpar o Hamas e os militantes de outros grupos da resistência por ter lançado foguetes contra as cidades de Israel. Mas além da versão sionista e do imperialismo, o que realmente está acontecendo em Gaza e por quê?
O primeiro ponto que deve ser destacado são as eleições gerais que acontecerão em Israel no próximo mês de janeiro. A direita sionista, liderada pelo primeiro ministro Benjamin Netanyahu, busca gerar um barulho diversionista e, principalmente, distrair a atenção do aprofundamento da crise capitalista no País, silenciando os setores oposicionistas, em cima do aumento da histeria sobre os “terroristas islâmicos” e os perigos aos quais a “democrática” nação judia está submetida.
Ao mesmo tempo, a agressão ajuda aumentar a pressão dos lobistas sionistas sobre o governo Obama para que a ajuda militar, que soma em torno de US$ 3 bilhões, seja mantida no contexto das discussões sobre o chamado “abismo fiscal” e os cortes no orçamento público. O cinismo é recorrente. Após os sionistas atacarem e arrasarem o sul do Líbano em 2006, mas tendo sido derrotados, na prática, pelas milícias do Hizbolá, o governo norte-americano liberou uma ajuda bilionária especial para reconstruir as localidades que sofreram danos no norte de Israel, enquanto as Nações Unidas chamaram a desarmar o Hizbolá.
Os especuladores financeiros também agradecem à nova agressão, pois ajudou a segurar os preços do petróleo que há mais de uma semana tinham caído abaixo de US$ 110 o barril, o que hoje tem um enorme impacto devido ao esgotamento da especulação financeira nos mercados futuros de commodities provocada pela queda dos preços das matérias primas minerais e, nas últimas semanas, também de algumas matérias primas agrícolas, como a soja.
Como a nova ofensiva iniciou e por quê o líder militar do Hamas foi assassinado?
Durante os últimos meses, tinham acontecido vários ataques da aviação israelense que a resistência tinha respondido basicamente com o lançamento de mísseis a Israel.
O Hamas e o grupo Jihad Islâmica buscaram uma trégua com o governo sionista, com a intermediação do governo do Egito. O primeiro ministro de Gaza, Ismail Haniyed, chegou a declarar, no dia 12 de novembro, a satisfação pelo fato dos principais grupos da resistência terem concordado com a trégua. A própria imprensa noticiou as declarações, começando pela agência Reuters no dia seguinte.
Umas horas mais tarde, o exército sionista assassinou o chefe da brigada al-Qassam, o braço militar do Hamas, Ahmad al-Jaffari, lançando um míssil contra o seu automóvel. al-Jaffari tenha sido um dos principais orquestradores da trégua com Israel e um elemento moderado do Hamas. Pouco antes dele ter sido morto, de acordo com o jornal israelense Haaretz e confirmado em blogs de ativistas palestinos, al-Jaffari tinha recebido uma primeira versão de um acordo de cesse ao fogo a longo prazo proposto pelos principais grupos da resistência palestina. Apesar da propaganda sionista, al-Jaffari era tido como uma espécie de “empreiteiro” político de Israel na Faixa de Gaza, durante os últimos cinco anos e meio, com a condição de que mantivesse a segurança sob controle. Ou seja, o governo israelense queria evitar a trégua e detonar uma guerra em condições favoráveis.
Não é a primeira vez que os sionistas “fabricam” uma crise para justificar massacres contra a população palestina com o objetivo de encobrir interesses escusos. O fizeram em dezembro de 2008, por exemplo, numa operação que, em dois meses, matou 1.400 palestinos. Desta vez, também vários civis têm sido mortos ou feridos, inclusive o filho de um fotografo da BBC, que tinha menos de dois anos de idade. Vários outros casos gritantes foram praticamente silenciados pela imprensa burguesa, como o do menino de 13 anos de idade, Hameed Abu Daqqa, que foi atingido no estômago, enquanto jogava futebol com os amigos, desde um helicóptero.
Por quê Gaza?
De fato, o verdadeiro interesse da direita sionista enlouquecida, liderada por Netanyahu, gostaria de atacar o Irã, pois o impacto seria muito maior. Até o exército e o Massad rejeitaram a ideia nos últimos meses, segundo foi amplamente divulgado na imprensa burguesa. Por esse mmotivo, a aposta era a eleição do candidato republicano Mitt Romney, nos EUA.
A vitória de Obama levou a questão do Irã novamente aos trilhos diplomáticos e distanciou a possibilidade de uma agressão militar. Este inclusive foi um dos motivos pelos quais setores majoritários da burguesia imperialista apoiaram Obama – até figuras republicanas bem direitistas, como o prefeito de Nova Iorque, Bloomberg, o governador de New Jersey, Richie, e a revista The Economist apoiaram publicamente Obama.
O regime dos aiatolás do Irã está muito longe de representar uma ameaça importante para o imperialismo e os sionistas. O programa nuclear também não representa uma ameaça nuclear real por vários motivos – as negociações, para o uso nuclear civil, que começaram a ser intermediadas pelo governo Lula e o governo turco, em 2010, tinham sido encomendadas pelo próprio Obama, mas logo a seguir desautorizadas pelo forte lobbysionista. Por trás estão os interesses dos setores ligados ao setor de armamentos nos EUA, os especuladores que dependem dos altos preços do petróleo e a direita israelense que depende das fartas ajudas dos EUA.
Mas um ataque sionista ao Irã poderia ser uma operação suicida e incendiar o Oriente Médio. As próprias tentativas de sufocar as revoluções árabes pela via democrática (Tunísia, Egito e Iêmen), pelo controle militar das milícias (Líbia e Síria), ou mesmo pela força militar direta (Bahrein), poderiam facilmente sair do controle imperialista e provocar a escalada do ascenso revolucionário na região, que é responsável pela maior parte da produção mundial de petróleo e pelos próprios petrodólares – base da ditadura do dólar e da especulação financeira.
A chamada operação “Pilar das Nuvem” contra a Faixa de Gaza, que a imprensa sionista e imperialista apresentam como uma espécie de base avançada do Irã, teria o mesmo objetivo, numa escala muito menor, mas com riscos muito menores, simplesmente confrontando uma população indefesa, cercada, que vive numa espécie de prisão a céu aberto, com baixa capacidade de reação contra uma das mais poderosas máquinas de guerra em escala mundial.
A tentativa de prejudicar o avanço das negociações entre o imperialismo norte-americano e o regime dos aiatolás pretende também criar uma provocação ao estilo do Golfo de Tonkin, que em 1964 levou o Congresso a autorizar os ataques contra o então Vietnam do Norte.
A política da direita israelense, em relação à população palestina, é elimina-la do mapa para poder viabilizar o sonho sionista da Grande Israel. Por esse motivo, mesmo a expansão dos assentamentos judaicos nas regiões ocupadas, longe de terem sido congelados, conforme o próprio Obama solicitou em 2010, continuam a todo vapor.
Logo após a escalada dos ataques sionistas o governo norte-americano e a imprensa imperialista propagandearam as centenas de mísseis que o Hamas teria lançado contra Israel e o direito dos sionistas a se “defenderem dos terroristas”.
As reacionárias monarquias do Golfo e a União Europeia, muito preocupadas em reconhecer o reacionário CNS (Conselho Nacional Sírio), com o qual querem sufocar a revolução na Síria, não se pronunciaram.
As massas populares palestinas somente podem contar com elas mesmas, e com a solidariedade internacionalista dos demais povos árabes, na luta anti-imperialista e pelo justo direito à autodeterminação.