O penúltimo capítulo –o último é o 'resgate' à banca corrupta- é o conflito mineiro nas Astúrias, que já se espalhou para o oriente galego e que se tem tornado umha batalha corpo a corpo entre as forças repressoras do estado capitalista e centos de mineiros que nom duvidam em combater diretamente com os corpos policiais.
Acontece na seqüência de umha greve indefinida do setor, que racha com o conceito de protesto inócuo limitado no tempo que a paralise social dos "bons" anos do capitalismo tinha instalado. A mineraçom está parada hoje por 16º dia, e a açom direta está a ser, como foi até agora, a protagonista de um conflito que a média ao serviço
do sistema nom quer dar a conhecer apesar da sua estrondosa visibilidade.
Os quadros de pessoal da mineraçom asturiana e galega oriental estám a protestar polos cortes de 63% nos fundos públicos destinados ao carvom polo Estado espanhol. Esse corte, entretando, é já sobre a contia prevista visando o desmantelamento do setor. Isto significa que a luita dos mineiros é para que, polo menos, sejam respeitados os prazos de desmantelamento, em vez de brutalmente acelerados.
A patronal do carvom acusa o governo de nom querer negociar, e de pôr por diante que "nom há dinheiro e portanto nom há soluçom" de forma que o setor é, irremediavelmente, empurrado ao fechamento após, por outro lado, inúmeros sinais de esgotamento nos últimos anos.
Mas, ainda que se acusem mutuamente, nem o governo nem o patronato vam ser os mais afetados polo que está a acontecer, obviamente. Independentemente da clara insustentabilidade ecológica do carvom e da necessidade de terminar com esse recurso autodestrutivo, a realidade é que o capital nom oferece aos mineiros mais alternativa que ficar sem trabalho, sem nem sequer respeitar os prazos de desmantelamento. O que, dadas as circunstáncias económicas atuais, significa a pobreza e exclusom.
Destarte, o quadro de pessoal da mineraçom asturiana viu-se empurrado a dar início a umha luita exemplar que se espalha já para o Berzo, na Galiza, e que pom de atualidade imagens que alguns e algumhas queriam sepultar fai décadas: a luita de classes corpo a corpo, materializada em confronto físico entre proletariado e servidores do poder.
Batalha corpo a corpo continua hoje (terça)
Mais um dia, piquetes em estradas e vias de comboio cortadas no meio de duros confrontos entre mineiros e antidisturbios nas Astúrias. Esta manhã, um comboio parou umha hora entre Ponte dos Fierros e Malvedo ao devido ao impacto com uma cadeia colocada sobre a catenaria.
A primeira imagem que acompanha esta informaçom, tomada na manhá de hoje em Campomanes polo jornal do sistema El País dá ideia da intensidade com que os mineiros estám a combater o intuito da Guarda Civil espanhola para acabar com um conflito muito desconfortável para o poder.
Ainda, durante esta noite, mineiros de Leom percorrerám as ruas da cidade como medida de protesto.
Ataques às sedes do PP
O Partido Popular de Mariano Rajói é quem está a executar os brutais cortes no setor mineiro, que nom é o único a "desfrutar" das medidas "marianas". Nesse sentido, hoje fôrom atacadas várias sedes do PP nas Astúrias, com pintura negra, vidros quebrados e sacos de carvom que identificavam claramente os e as responsáveis polas políticas de "austeridade" (nom aplicável à banca, polos vistos) que ameaçam enviar para a pobreza milhares de famílias dependentes do desmantelamento ordenado da minaria.
Ontem os transportes das Astúrias, mais umha vez, muito afetados
No reporte dos confrontos de ontem (segunda-feira) informava-se que desde primeiras horas da manhá os mineiros cortavam o tránsito em vários pontos das estradas e autoestradas mais importantes das Astúrias, alguns dos quais se mantivérom passadas as 10:00 horas, entre os quais a desviaçom que as forças policiais espanholas estabelecêrom no 64,9 da autoestrada A-66, na comunicaçom entre as Astúrias e Leom, tentado aparentar normalidade apesar de que o conflito mantém as comunicaçons por terra fortemente afetadas. Essa autoestrada também foi cortada polos mineiros na parte leonesa dos jazigos mineiros, em Barrios de Luna, no quilómetro 94.
Outro dos pontos habituais nos cortes de vias realizados pelos mineiros foi Bendición, no quilómetro 8,20 da AS-I, em Siero, onde permaneceu cortada umha das faixas, posteriormente reestabelecida. Além do mais, ontem permaneciam quatro mineiros encerrados no poço de Candín e três no de Aller.
Isso era na segunda-feira, dia 12, mas a verdade é que a luita corpo a corpo é a norma generalizada desde o começo do conflito. Nom afeitos a essa combatividade, os antidistúrbios nom conseguem, por umha vez, impor o seu terror de monocultivo da violência, e tenhem que evitar disparos dos mineiros realizados com improvisados bazucas.
O conflito atual começou como conseqüência da reduçom em 63% das verbas para a mineraçom no projeto de Orçamentos Gerais do Estado, com respeito ao combinado para este ano. Supom passar de 703 a 253 milhons de euros.
Desde os sindicatos maioritários convocou-se uma greve na mineraçom para os dias 23, 24, 30 e 31 de maio, que tivo um acompanhamento em massa nos seus primeiros dous dias e que começou a mostrar os primeiros cortes de estradas com pneus e barricadas, concentraçons de milhares de pessoas em Uviéu e cortes de estradas em várias províncias. Convocou-se uma manifestaçom para dia 31 em Madrid, para levar o problema às portas do governo do Reino.
Embora o tema atual é o desaparecimento das ajudas que condena a todo o setor a morte (enquanto as centrais térmicas de carvom alimentar-se-ám com produto de importaçom, conseguido em condiçons laborais miseráveis) o tema do destino das ajudas em anos anteriores mantém os mineiros em tensom, já que as ajudas fôrom "perdendo-se" como resulta fácil rastrear (No twitter #SinFondosMineros ou "Donde están los fondos mineros?").
Dia 28, dez mineiros encerram-se em dous poços, durante vários dias. 29 reúne-se a comissom de acompanhamento do Plano do Carvom sem considerar nengumha mudança. A 31 de maio a greve torna-se em indefinida como consequência da inviabilidade do setor, e nesse mesmo dia chegam os mineiros a Madrid e som reprimidos pola polícia com duras cargas e balas de borracha, o que aviva o conflito:
Nas Astúrias somou-se ao protesto o setor do transporte com uma greve indefinida setorial desde o dia 4, que entretanto já foi desconvocada, e o professorado interino também começa uma greve indefinida a partir de 11 de junho.
O conflito na Galiza: 8 pessoas detidas, mas mineiros respondem com contundência
Embora o epicentro claro da luita mineira está nas Astúrias, ontem o conflito subiu um degrau na Galiza e, pola primeira vez desde o começo da luita, paralisou-se o transporte ferroviário nesse país. Foi na comarca do Berzo, que sob administraçom da Comunidade Autónoma vizinha de Castela e Leom tem também umha histórica relaçom com a atividade mineira.
Já quanto as estradas, a A-6, Madrid-Corunha, foi cortada ontem no quilómetro 364, em Bembibre, o que terminou num combate direto entre forças policiais e manifestantes. Precisamente nessa vila, foi onde se produzírom oito detençons no dia de ontem. O Comité Intercentros de Uminsa denunciava que essas pessoas fôrom detidas "por ser mineiros e estar na rua", mas deixou claro que "se o que querem é meter medo, estám enganados" e advertiu para a subdeleçom nom exceder-se no seu poder, "porque o efeito é o contrário".
A Galiza autonómica viveu há ano e meio um conflito com umha raiz semelhante à do atual nas Astúrias e na Galiza oriental (o final das ajudas públicas ao carvom), obrigando na altura a complicados posicionamentos da esquerda comprometida, obrigada a enfrentar defesa do meio ambiente e defesa dos interesses das classes trabalhadoras.
Média alternativa do Estado espanhol denuncia ocultamento do conflito mineiro
Por outro lado, e como noticiávamos no Diário Liberdade há dous dias, os meios alternativos do Estado espanhol sublinham a importância de fortalecer espaços de comunicaçom à margem da censura e da manipulaçom da média burguesa no caso deste histórico protesto.
Os meios comerciais espanhóis optam por falar do conflito de uma maneira superficial (El Mundo e El País) ou bem preferem ignorá-lo (ABC e La Razón, da direita pró-franquista), num novo exemplo de que o que nom se conta nom existe.
Simpatia com o protesto
Mais um ponto importante no conflito mineiro é que o uso de táticas de luita direta, longe de receber o rejeiçom habitual daquelas camadas da populaçom mais vulneráveis ao discurso hipnótico da média comercial, está a receber um apoio importante, patente na rua e redes sociais, que informam do conflito mineiro perante o silenciamento dos jornais do empresariado.
A minaria do carvom nas Astúrias
As Astúrias, um dos vários povos presos polo imperialismo espanhol –embora, a diferença dos casos basco, galego e catalám usufrua de um movimento de libertaçom e consciência nacional muito mais fracos -, tivo na mineraçom do carvom um dos pilares mais importantes para a sua economia desde finais do Século XVIII.
Chegando a dar trabalho a mais de 50,000 pessoas em meados do século passado, em 2011 só eram 3,470 as pessoas que trabalhavam na mineraçom do carvom num país que hoje é administrado por Espanha através do chamado Principado das Astúrias.
A realidade é que a luita dos mineiros asturianos nestes dias corresponde-se com o final de umha atividade que começou o seu declínio na década de 60 do século XX. A partir desse momento a rentabilidade do setor iria a menos, e só sobreviveria alimentado por ajudas estatais e europeias, nacionalizaçom de empresas falidas e outras manobras de "respiraçom assistida" que respondérom à necessidade de conter o descontentamento social de um povo com umha altíssima consciência de classe e fortemente dependente do setor.
Que reclama exatamente o pessoal da mineraçom?
Inicialmente, era 2002 o horizonte em que a Uniom Europeia tencionava pôr fim aos subsídios ao carvom –incluídos os subsídios dos Estados ao seu próprio carvom, na política de "liberalizaçom" do mercado, que tam bem conhecemos... Porém os prazos fôrom sucessivamente renegociados e adiado o final das ajudas, em razom de conflitos nos diferentes países afetados –entre os quais a Galiza, que fai escasso ano e meio vivia também um duro confronto no setor. E assim até hoje, dia no que a "austeridade" também atinge a mineraçom.
Hoje, só os subsídios ao carvom europeu permitem que continue a extraçom nas Astúrias, onde se obtem um produto nom competitivo frente às ingentes quantidades produzidas na China e noutros países com custos de produçom insignificantes.
Sendo o carvom um combustível fóssil nom renovável e altamente poluente, claro inimigo a combater do meio natural, a luita dos mineiros é exemplar mas coloca-se num espaço complicado, porquanto o capital nom está disposto a fornecer meios de vida a essas pessoas fora –nem dentro- de umha atividade cuja defesa é, por outro lado, incoerente com os princípios ecologistas de grande parte da esquerda. Nom há, por outro lado, razons para que o Estado espanhol desrespeite unilateralmente os acordos e prazos adoptados para o progressivo desmantelamento do setor enquanto mete milhares de milhons de euros à banca corrupta.
Com informaçons de Kaos en la Red, entre outros.
Fotos: 1- El País: Combates, dia 12 de junho, entre polícia e mineiros nas Astúrias2 - Facebook: Combates entre polícia e mineiros nas Astúrias. 3 - El País: Barricada nas Astúrias. 4 - El País: Polícia de choque nom conseguem avançar contra mineiros. 5 - Infobierzo: Mineiros atiram em Bembibre com um bazuca improvisado. 6 - El País: Mineiros constroem umha barricada numha autoestrada asturiana.