O apoio mútuo entre os bancos e os seus representantes oficiosos na institucionalidade capitalista, os governos burgueses, não é a solução para ultrapassar a crise estrutural do sistema, que não deixa de aprofundar-se.
Não o dizemos os e as "radicais" do Diário Liberdade. São palavras de um economista do sistema, o Nobel Joseph Stiglitz, que denomina "economia vudu" a forma como se produz a ajuda constante entre grandes capitalistas financeiros e governos "democráticos". O mais recente capítulo desta novela sem fim é a intervenção da troika na economia espanhola, com um empréstimo de até 100 mil milhões de euros destinados a financiar os buracos dos principais bancos espanhóis.
O economista norte-americano, da Universidade de Columbia, afirmou numa entrevista que, uma vez que os bancos são os principais compradores de dívida soberana, o Governo poderia ver-se obrigado a pedir ajuda aos bancos aos quais agora chegarão fundos europeus. "Se o Governo espanhol resgata os bancos e a banca resgata o Governo, o sistema converte-se numa economia vudu. Não vai funcionar e não está a funcionar", disse com rotundidade.
As receitas de Stiglitz, como se sabe, ficam longe da representarem uma solução para os povos, que deveria ser acorde com a imprescindível ruptura com o capitalismo. Unicamente defende outras fórmulas, dentro do capitalismo, que não estão a ser ensaiadas na atualidade na Europa. Nomeadamente, fala de "acelerar a discussão sobre um sistema bancário comum", porque, acrescenta, "não há maneira de que, quando uma economia entra em queda, seja capaz de sustentar políticas que restaurem o crescimento sem uma forma de sistema europeu".
Stiglitz é um economista pró-capitalista que mesmo foi conselheiro económico do antigo Presidente democrata dos EUA Bill Clinton, mas é crítico com os pacotes de austeridade como solução anti-crise. O Nobel de 2001 afirma que o que a UE fez até agora foi "mínimo e numa direção errada", porque as medidas de austeridade para diminuir o risco da dívida têm como resultado diminuir o crescimento e fazer aumentar o peso da dívida, disse ainda.
Voltar ao crescimento é possível? É desejável?
De facto, não há já praticamente crescimento no capitalismo europeu, norte-americano e japonês, o que indica, segundo diferentes economistas marxistas, um esgotamento final do sistema. Porém, Stiglitz mantém esperanças de retomar o crescimento e salvar o capitalismo, mas afirma que "ter corta-fogos quando se está a regar o fogo com gasolina não vai resultar. Vai ser preciso enfrentar o problema de base, que é o de promover o crescimento", disse.
Stiglitz situa na Alemanha a máxima responsabilidade para uma retificação: "A Alemanha vai ter de enfrentar a questão: quer pagar o preço que se seguiria a uma dissolução do euro, ou quer pagar o preço de manter vivo o euro?". "Penso que o preço que eles vão pagar se o euro se desintegrar será maior do que o preço que vão pagar para manter o euro. Espero que percebam isso, mas podem não perceber", rematou.
Ainda que no fundo todos eles coincidam no desejo de manter com vida um sistema intrinsecamente injusto e abocado às crises, não deixa de ter interesse observar as contradições dos diferentes gurus do capitalismo senil atual.
Debates como esse deixam em evidência tanto a incapacidade de uns e outros para conterem a crise em curso, como a possibilidade certa de que, na sua eventual voragem autodestrutiva final, o capitalismo poda vir a derivar em formas ainda piores do que o terrível pesadelo que já está a representar para maioria da humanidade.
A alternativa? Stiglitz não vai formulá-la, mas nós sim: o socialismo.