Fotos: Jornal Contramão
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Após seguidas investidas de terror psicológico do governo e Polícia Militar através das mídias corporativas, que afirmavam que "quem for às ruas estará cometendo um suicídio", o Quinto Grande Ato de Belo Horizonte, realizado nessa quarta-feira (26/06), teve novamente a Praça Sete, no Centro da capital mineira, como principal ponto de concentração do movimento, dentre outros 11 pontos. Mais de 60 mil pessoas se manifestaram, em 10 quilômetros de manifestação. Cerca de 30 foram presas, entre elas cinco menores de idade. Uma pessoa faleceu ao cair do Viaduto José de Alencar enquanto fugia da repressão militar, que contou com o maior efetivo operacional da história de Minas Gerais, com cerca de 5.500 policiais, mais centenas de militares da Força Nacional de Segurança, sem contar as dezenas de policiais infiltrados (p2) no movimento que provocavam os manifestantes soltando bombas no meio do ato e incitando-os, especialmente jovens estudantes secundaristas, a atacarem a polícia.
Na Praça Sete, a Polícia Militar iniciou um procedimento de revistar a todos que chegavam para o ato. Mochilas foram abertas e revistas corporais foram realizadas, e foram apreendidos materiais como vinagre, leite de magnésia, óculos, estilingues, máscaras, skates, fogos de artifício, maconha, entre outros artefatos.
Próximo de 14h, o ato já contava com mais de cinco mil pessoas, e uma assembleia foi realizada para decidir o percurso e decidiu marchar até as proximidades do estádio do Mineirão percorrendo a Avenida Antônio Carlos, que liga o Centro à Pampulha (UFMG, Mineirão, Lagoa da Pampulha etc.), onde ocorria o jogo da Seleção Brasileira contra a Seleção Uruguaia, às 16h. Assim, o ato repetiu o trajeto dos atos da segunda-feira (17/06) e do sábado (22/06). Houve a participação de professores estaduais, MST, sem teto, moradores da periferia e favelas, movimentos populares, atingidos/despejados pela Copa, feministas, LGBTs, estudantes secundaristas e universitários, policiais civis, partidos, sindicatos, médicos, advogados, entre tantas outras organizações e independentes.
Entre 14h e 16h, milhares de pessoas iam se somando ao ato e marchando de modo disperso. No total, foram cerca de 60 mil pessoas em protestos divididos em blocos. Havia protestos contra a Copa do Mundo da FIFA, pela desmilitarização da Polícia Militar e o fim da repressão, por gastos públicos com saúde (contra o ato médico, a privatização), moradia (realocação dos moradores despejados pelas obras da Copa, por moradias para os sem teto, respeito às ocupações de moradias populares etc.), transporte (ampliação do metrô, redução das tarifas e passe livre para a juventude), entre outras reivindicações.
Quando o movimento, que marchava pacificamente na Av. Antônio Carlos, aproximava-se da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, mais uma vez a Polícia Militar descumpriu o acordo do Governador do estado, Antonio Anastasia, com o COPAC (Comitê Popular dos Atingidos pela Copa) e iniciou o ataque contra o movimento, como ocorreu nos outros dois atos (ver aqui e aqui), jogando bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral no meio dos manifestantes. A justificativa da repressão foi a ação de um pequeno grupo de manifestantes que teria furado uma barreira humana dos próprios manifestantes na Avenida Abrahão Caram, na esquina com a Avenida Antônio Carlos, e jogado pedras contra os policiais da Tropa de Choque, que estavam fortemente armados e se defendiam sem maiores problemas com seus escudos.
Então, próximo de 17h, mais uma vez a Polícia Militar repetiu as ações dos últimos dois atos que foram realizados nesse local: reprimiu o movimento indiscriminadamente quando parte dele passava na Av. Antônio Carlos, dividindo um grupo de cerca de 5 mil pessoas à frente e os demais mais de 40 mil para trás da UFMG na Av. Antônio Carlos. Nesse momento, com a confusão instaurada, cerca de cem pessoas iniciaram a reação à violência policial ocupando uma concessionária de veículos, incendiando parte dela e retirando, carregada no braço, uma caminhonete que foi colocada no meio da Avenida e incendiada. O movimento tornou-se uma rebelião popular na esquina da Avenida Antônio Carlos com a Avenida Abrahão Caram, com muitas barricadas e fogo.
A grande novidade desse ato foi a incorporação da juventude pobre, marginalizada e trabalhadora, que reagiu, com seu ódio de classe, de modo ainda mais violento e radicalizado do que os próprios manifestantes que resistiram às investidas da repressão militar. Durante a ofensiva militar, por volta de 18h30, um manifestante caiu do viaduto José Alencar (o mesmo viaduto onde outros cinco manifestantes caíram, outro neste mesmo ato, e quatro nos atos anteriores) quando tentava fugir dos policiais, que atiravam balas de borracha e bombas de gás. As autoridades já haviam acordado com lideranças da manifestação que iriam fazer uma proteção para que essas quedas não se repetissem. Não há confirmação se o jovem operário tentou pular de cima do viaduto para escapar da repressão ou se teria sido empurrado. O manifestante se chamava Douglas Henrique de Oliveira Souza, tinha 21 anos e era operário metalúrgico. Ao cair, foi socorrido com muita dificuldade e levado ao Hospital Público João XXIII, mas não resistiu aos graves ferimentos, entre eles, um traumatismo craniano.
Assim, a mídia local e nacional passou a fazer, ao vivo, uma distinção entre os "baderneiros, bandidos, saqueadores e vândalos" e os "manifestantes de bem, pacíficos e ordeiros". Com essa mesma dualidade, a PM, apoiada pela Força Nacional de Segurança e as Tropas de Choque como o GATE, passou a reprimir o movimento que resistia em toda a Avenida Antônio Carlos em direção ao Centro da capital, prendendo aleatoriamente manifestantes que ocupavam as ruas, como foi registrado pela equipe de reportagem do @pos_tv.
A repressão foi incessante entre 18h e 22h, com a PM removendo os manifestantes das ruas usadas pelo ato com violência, enquanto a juventude resistia com barricadas, escudos improvisados e pedras. A Polícia Militar esteve com um trio elétrico desde a Pampulha até o Centro da capital mineira com o dizeres: "Estamos devolvendo a cidade para as pessoas de bem, nesse momento histórico de resgate da democracia" e fazendo distinção entre "cidadãos de bem" e "bandidos, arruaceiros".
A Praça Sete esteve ocupada desde o início do ato e, por volta de 21h, a PM, com apoio do GATE e um carro "caveirão" blindado, iniciou a repressão dos manifestantes que ocupavam a Praça Sete. A repressão, encabeçada pelo Comandante Xuxa da Polícia Militar, evacuou os manifestantes com disparos de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Minutos após a tentativa de evacuação, dezenas de manifestantes reocupavam a Praça Sete, no meio da Avenida Afonso Pena com a Avenida Amazonas, no obelisco conhecido como Pirulito. Após toda essa investida repressiva da PM, os manifestantes ficaram na Praça Sete até o esvaziamento do movimento, após meia-noite.