Comício de apoio à Revolução Bolivariana antes das eleições de domingo. Foto: Alejandro Acosta
Ignacio Ramonet explicava muito bem de noite na Telesur, quando os resultados das eleições legislativas ainda não eram conhecidos, e que deram a maioria simples à oposição. A Revolução Bolivariana não está derrotada, nem muito menos, ainda que desde cima, das transnacionais midiáticas e das elites políticas, só chova lama sobre ela.
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O diretor do Le Monde Diplomatique analisava o porquê. Esta foi uma eleição para a Assembleia Nacional, mas o sistema de governo venezuelano é presidencial. Pode-se ter uma vitória em um Parlamento de 167 assentos, que dão uma margem de poder, mas limitado, como ocorre nos EUA. Os cubanos entendemos muito bem isso: o presidente Obama tem prerrogativas para governar e tomar decisões diariamente, mas derrogar o bloqueio é um negócio do Congresso. E ainda assim sabemos que Obama tem faculdades que ainda não utilizou, quando poderia perfeitamente deixar para trás essa política espúria. Vá saber por que.
Quem seguiu essas eleições não pode ignorar que se legitimou o Poder Eleitoral e a institucionalidade venezuelana. Houve grande tranquilidade durante toda a jornada e a nota indigna não foi o chavismo, mas do acompanhamento internacional da oposição, que violou as normas mais elementares de respeito ao exercício eleitoral, ao se intrometer na política local.
Será fácil o governo de Maduro? Claro que não. Manterá diante de si o desafio constante de uma direita golpista que frequentemente despreza a vontade popular, que conta com um respaldo político-militar dos EUA e que com essas eleições acaba de receber uma injeção de esteróides. Que tentará, com ânimo renovado, fazer retroceder não só na Venezuela – já sabemos o peso específico da revolução chavista no âmbito continental – um processo que transformou em cidadãos milhões de pobres e que esteve permanentemente assediado pelo boicote econômico e o crime organizado a serviço do neoliberalismo transnacionalizado e o paramilitarismo.
O temor é que, se avançarem os objetivos dessa direita de panelas e bandeira ianque, o desmonte simbólico e social da Revolução na Venezuela se converta em uma atividade selvagem que faça retroceder o que até agora foi conquistado. A intransigente radicalidade contra o governo bolivariano, fonte do desamparo orgânico e de liderança da oposição em quase duas décadas de chavismo, tem uma natureza dupla: por um lado possui uma alta capacidade autodestrutiva, mas por outro é muito perigosa dada a sua (não verbalizada agora, mas patente) tradicional aposta política pelo sangue.