Começou nesta terça-feira (19/03), na Cidade da Guatemala, o julgamento do ex-ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt, de 86 anos. Primeiro chefe de Estado a ser julgado por crimes de lesa humanidade no país, ele é acusado de ser o responsável pelo genocídio de populações indígenas durante seu regime (1982-1983).
Havia o temor de que o julgamento de Ríos Montt fosse postergado, porém, recurso da defesa do ex-ditador foi rejeitado no início da audiência pela juíza do caso, Jazmín Barrios.
O ex-ditador será julgado pela execução de 1.771 indígenas maias ixiles no departamento de Quiché (norte) durante seu mandato, no momento mais violento da guerra civil de 36 anos (1960-1996), que deixou 200 mil mortos ou desaparecidos na Guatemala, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
No julgamento, que deve durar vários meses e ouvir 130 testemunhas e quase 100 peritos, também será acusado por genocídio o general da reserva José Rodríguez, de 68 anos.
A Promotoria sustenta que, enquanto esteve no poder, Ríos Montt esteve a par do que aconteceu com as populações indígenas e por isso é também responsável pelos massacres cometidos por seus subordinados. O promotor do caso, Orlando López, disse na abertura do julgamento que “eles [Ríos Montt e Rodríguez] tinham uma missão na luta contra a insurgência que incluía a etnia ixil”.
O advogado das vítimas, Edgar Pérez, afirmou que espera que “através desse julgamento, as vítimas possam explicar a vocês [o tribunal] suas histórias, suas verdades que vêm carregando por mais de 30 anos, verdades que alguns hoje querem negar.”
Leia entrevista com o advogado Edgar Pérez
A defesa, por sua vez, argumenta que Ríos Montt não é responsável pelos acontecimentos. “As evidências demonstram que, sim, aconteceram episódios graves, claro. O tema aqui é quem é responsável por eles. Nas audiências não houve um só fato relacionado a ele [Ríos Montt] diretamente”, disse o advogado de defesa, Francisco Palomo. O advogado das vítimas refutou as afirmações: “Obviamente, no mundo não há um só caso onde um genocida tenha autorizado nem a morte nem a tortura de alguém. Nem mesmo Adolf Hitler.”