1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (1 Votos)

201214 limaAmérica Latina - Carta Maior - [Najar Tubino] O crescimento econômico não tem sido sustentável nem inclusivo, e nós sabemos qual é a classe social que é mais afetada pelas mudanças climáticas.


O resultado da COP20 em Lima pode ser resumido no título do documento final, chamado de rascunho: “Chamamento de Lima para a ação sobre o clima”. O rascunho que será discutido até novembro de 2015, com os projetos de cada país para reduzir as emissões de gases estufa. Ainda não se sabe a fórmula para avaliar cada iniciativa – redução de desmatamento, inovação industrial ou energias renováveis . Com muita dificuldade se manteve uma definição, que é da ECO92 : a responsabilidade é comum a todos os países, mas diferenciada. Os países ricos, que faturam com a destruição do Planeta desde a Revolução Industrial, foram “encorajados” a reduzir as emissões entre 2015 e 2020. Pelo menos não apagaram a História: a responsabilidade que eles têm desde o século XIX, jogando gás carbônico, metano e óxido nitroso na atmosfera.

Uma citação do Secretário de Estado John Kerry na capital peruana:
 
“- Sei que as negociações são tensas e difíceis e sei que muitas pessoas estão furiosas com a difícil situação em que foram colocadas pelos grandes países, que se beneficiaram com a industrialização durante muito tempo. Mas não há tempo para continuarmos sentados discutindo para saber a quem cabe a responsabilidade de agir. A responsabilidade cabe a cada um, uma vez que é a quantidade total de CO2 que conta e não a parte de cada país”.
 
Destruição ambiental para formar bilionários
 
Exatamente, ainda deve ter CO2 da queima do oeste americano na atmosfera e dos rolos de fumaça preta de Londres, Manchester ou Birmingham. Para continuar na sustentação do texto, outra declaração, de Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute, da Universidade de Columbia:
 
“- A maior parte do crescimento econômico não é sustentável nem inclusivo. Os ricos ficam mais ricos e os pobres e o planeta pagam por isso”, declaração publicada no relatório da Oxfam chamado “Equilibre o jogo, é hora de acabar com a desigualdade extrema”, publicado recentemente.
 
A situação é exatamente esta: se temos que mudar a economia, porque a concentração de pobreza continuará, se justamente é a essência do problema. Ou melhor, a degradação ambiental e o risco de destruição, agravado pelas mudanças climáticas, serve para consolidar uma elite de 2.325 bilionários, conforme a pesquisa do banco suíço UBS e da consultoria de Hong Kong Wealth-X, que somadas as fortunas atingem a cifra de US$7,3 trilhões. O cálculo da Oxfam é de 1.645 bilionários. Interessa é que tem um bilionário para cada grupo de três milhões de habitantes.

Porém, isso não é o mais relevante. O novo tratado do clima, que será definido em dezembro de 2015, só entrará em vigor em 2020, quando os mesmos analistas – especializados em gestão de riquezas – calculam que haverá um aumento no número de bilionários para 3.800. É claro que para atingir tal número o sistema financeiro está calculando que não haverá mudança alguma nas regras, nem tratado que altere o modelo econômico, que privilegia os atuais donos do poder.
 
Desigualdade extrema disparou
 
Os bilionários são europeus na maioria – 775 -, seguidos pelos Estados Unidos, que é o país com maior número – 571, sendo que 57 novos sócios entraram no clube este ano. A América do Norte tem 609, a Ásia 560, o Oriente Médio 154, a América Latina e Caribe 153, a África 40 e a Oceania e Pacífico 34. Se somar com o número de milionários, vamos dizer, a classe média dos ricos – com mais de um milhão de dólares livre para investimento – o número de pessoas dessa elite nobre não chega a 12,5 milhões, para um planeta com sete bilhões de habitantes.
 
Um trecho do relatório da Oxfam:
 
“- A desigualdade extrema no mundo disparou nos últimos 30 anos, transformando-se em um dos maiores desafios econômicos, sociais e político do nosso tempo. A desigualdade extrema corrompe a política, prejudica o crescimento econômico e impede a mobilidade social. Sete entre 10 pessoas vivem em países nos quais a distância entre ricos e pobres é maior do que era há 30 anos”.
 
Um milhão de assassinatos
 
De Gana à Alemanha, da África do Sul à Espanha a distância entre ricos e pobres está aumentando rapidamente e uma minoria abastada se apropria de uma parcela cada vez maior da renda nacional. Segundo a Oxfam, líderes do mundo estão debatendo novas metas globais para acabar com a extrema pobreza até 2030. A América Latina continua sendo a região mais violenta e desigual do planeta, sendo que das 50 cidades mais violentas, 41 estão no continente, onde ocorreram um milhão se assassinatos entre 2000-2010.
 
Qual a causa da explosão da desigualdade, como os integrantes das organizações que compõem a Oxfam, que tem sede na Inglaterra e atua em mais de 100 países, definiram este “fenômeno”?
 
“- As escolhas políticas e econômicas ocasionaram a maior desigualdade. Há dois motores econômicos que podem contribuir muito para explicar os extremos que vemos hoje – o fundamentalismo de mercado e a captura de poder pelas elites econômicas. O crescimento econômico baseado no fundamentalismo de mercado insiste na ideia de que o crescimento só é alcançado reduzindo-se a intervenção do governo, e deixando que os mercados façam o que bem entendem”.
 
Dinheiro compra influência política
 
A receita ainda é a mesma, que está sendo usada na União Europeia neste momento. A desregulamentação, reduções rápidas nos gastos públicos e programas sociais, privatização, liberalização financeira e comercial e cortes fiscais generosos para as empresas e as classes mais abastadas e um nivelamento por baixo para enfraquecer os direitos trabalhistas.
 
“- O dinheiro compra influência política, que os mais ricos e poderosos usam para consolidar ainda mais suas vantagens injustas. O acesso à justiça geralmente também está à venda, legal ou ilegalmente, os altos custos judiciais e o acesso aos melhores advogados, garantindo a impunidade dos poderosos. As elites, tanto em países ricos quanto pobres, usam a influência política para garantir favores do governo, isenções fiscais, contratos privilegiados, concessões de terras, subsídios, ao mesmo tempo em que bloqueiam políticas que possam fortalecer os direitos da maioria”.
 
A Oxfam também ressalta que os as organizações sindicais ajudam a melhorar o salário em 20% nos países, além de elevar o teto dos salários no mercado. E cita a valorização do salário mínimo no Brasil, como um dos fatores para redução da pobreza.
 
Paraíso fiscal no grão-ducado
 
A outra ponta desse imbróglio está na evasão fiscal. A Oxfam calcula em US$18,5 trilhões a soma guardada nos paraísos ficais, que significa uma perda de US$156 bilhões que os países deixam de arrecadar em impostos. Não é uma coincidência que o Consórcio Internacional de Jornalistas Internacionais tenha divulgado na mesma semana da COP20, que 340 empresas fizeram acordos secretos com o governo de Luxemburgo de 2002 a 2010, quando Jean-Claude Junker era o primeiro-ministro, aliás cargo que ocupou por 19 anos – agora é o presidente da Comissão Europeia. Para reduzir impostos, é óbvio, considerando as subsidiárias instaladas em Luxemburgo, que é um país que não é considerado paraíso fiscal pelo Brasil.
 
Ele é seguro, estável, transparente, como anotei de uma revista do mercado financeiro, tanto que é o preferido dos fundos de investimento, que tem lá dois trilhões de euros aplicados. As empresas são do porte da Pepsi, Apple, Ikea, FedEx e tem em comum o plano de estratégia financeira elaborado pela PriceWatherHouseCoopers, uma das quatro consultorias da área financeira que dominam o planeta. O Consórcio, que envolveu 80 jornalistas na investigação e 40 veículos está divulgando os documentos vazados aos poucos. A última leva saiu no dia 10 de dezembro.

Esta é a realidade insólita, extraordinária, incomum, que regerá o tratado do clima em 2020, mesmo ano em que Cingapura irá ultrapassar a Suíça como gerenciador de fortunas, segundo cálculo dos bancos suíços, que já estão todos instalados no país, inclusive o próprio Banco Central da Suíça, pela primeira vez abriu um escritório no exterior. Então Tratado do Clima, paraíso fiscal, aumento no número de bilionários, extrema pobreza são todos ingredientes do atual momento histórico. Um coisa é clara: os ricos não querem perder seus privilégios e a maioria que sofrerá com as tragédias climáticas é por demais conhecida. Em tempo: Canadá e Japão abandonaram o Tratado de Kyoto, ainda em vigor, sem dar satisfação alguma.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.