Três jovens secundaristas e uma adolescente, conhecidos pela atuação na militância estudantil, sofreram atentado com disparos de arma de fogo na noite do último dia 25 de março, em Tegucigalpa, capital de Honduras. Eles conversavam numa calçada do bairro Perpétuo Socorro de Comayagüela, nas imediações do Instituto Jesús Aguilar Paz, onde estudavam, quando foram surpreendidos por um grupo de homens não identificados dentro de um automóvel, que atiraram sem dizer nada. Dois deles morreram de imediato; a terceira vítima chegou a ser socorrida no hospital, mas também não resistiu.
As vítimas fatais do ataque, os dirigentes estudantis Elvin Antonio López, 19 anos de idade, Darwin Josué Martínez, de 21 anos de idade, e Diana Yareli Montoya, também de 21 anos, haviam participado, recentemente, de manifestações públicas exigindo do Governo de Honduras melhores condições nos centros educacionais do país. Eles estavam engajados ativamente no movimento contra a extensão da jornada de aulas durante as últimas duas semanas, por considerarem que a medida poria em risco a segurança dos estudantes.
Na manhã do dia seguinte foi encontrado o corpo de outra estudante, Soad Nicolle Ham Bustillo, de somente 13 anos de idade, aluna do Instituto Central Vicente Cáceres. Ela foi estrangulada e seu corpo sem vida foi deixado dentro de um saco, próximo ao colégio. Recentemente, outros dois estudantes foram baleados por desconhecidos em um carro, nas imediações de Comayagüela.
Em nota, a Rede Nacional de Defensoras de Direitos Humanos em Honduras condenou os ataques. "Condenamos esses fatos lamentáveis contra meninas e jovens que, em seu legítimo direito ao protesto, tiveram suas vidas arrebatadas", afirma a entidade. Segundo a Rede, esse é, claramente, mais um caso entre muitos de perseguição contra o protesto público de defensoras e defensores, que, constantemente, denunciam abusos de poder por parte dos governantes hondurenhos, criminalizando as lutas populares e instalando o "terror" no restante da população.
"Exigimos do Governo de Honduras que ponha freio à repressão e ao assassinato de jovens hondurenhos e que se realize uma investigação séria e a punição dos autores intelectuais das ações criminosas e nefastas", assinala a Rede. "Fazemos um chamado ao movimento popular e social de Honduras para que nos somemos à exigência do movimento estudantil como um compromisso com as maiorias cada vez mais agredidas pela falta de justiça e pela militarização", complementa a entidade.
Já o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) critica, de maneira enérgica, o assassinato dos jovens, apontando que o caso é parte de uma "política de terrorismo de Estado" hoje vivida no país. "Réplicas das lógicas de extermínio da oposição ou de qualquer fato que denuncie as atrocidades de um governo de tendência ditatorial como o atual, assim como se fez nos anos 1980 e logo depois do Golpe de Estado de 2009, como tem se feito na Colômbia e no México", expõe o Conselho, em nota.
Para a entidade, o homicídio dos jovens estudantes é responsabilidade do Estado, encabeçado pelo presidente da República, Juan Orlando Hernández. "É claro que nessas operações assassinas e repressoras existe a organização de um aparato com estruturas próprias, com financiamento, logística, comunicação e impunidade para atuarem de uma maneira descarada, baseados na psicologia de impor medo, com treinamento e assessoria para atuar premeditada e planejadamente", denuncia a entidade hondurenha.
Por sua vez, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) exige que Honduras investigue o assassinato dos estudantes. "Pedimos que haja uma investigação por parte do Ministério Público e que se cobrem as responsabilidades pelo caso", afirmou a representante da Unicef em Honduras, Cristian Munduate.
Marcela Belchior, é jornalista da Adital. Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), estuda as relações culturais na América Latina.